Vou ser sincero à vocês, três meses e pouco atrás, bolava essa postagem pra ser uma cornetação sem igual à Record, pois imaginava que ia ser algo tão bom quanto a maioria das produções da emissora. Hoje vejo que caí do cavalo. A Record se superou de tal maneira nessa produção que foi até meio que inacreditável. Nunca vi nada parecido em toda teledramaturgia brasileira, inclusive a da Rede Globo. Os cenários, os figurinos, a trilha sonora, tudo te colocava como se você estivesse mesmo na época. Claro, nesse sentido também ela não foi perfeita, os diálogos foram meio falhos, estavam muito adaptados à realidade atual, podiam ter dado um toque mais antigo à eles, ficaram modernos demais. Não que isso seja ruim, totalmente pelo contrário, torna o assistir mais prazeroso, porém, diante dos vários esforços de realismo para a "transposição de época" da Record, podia ter dado uma olhada nisso. E falando nos diálogos, queria entender o por quê de na vida quotidiana eles falarem português e durantes cerimônias especiais e religiosas eles falarem hebraico.
E falando nas cerimônias religiosas, os três casamentos apresentados na minissérie também foram um espetáculo à parte. A música com instrumentos típicos, as danças tradicionalmente orientais (As mulheres dançando era até bonito de se ver). Só não sei se na época os casamentos eram realmente daquele jeito de como é retratado na série. Se sim, me espantava a alegria dos sacerdotes. Sou acostumado nos casamentos a ver o celebrante apenas como celebrante, agora, aquele monte de "padre" pulando e dançando, chega a ser até chocante. Mas chocante de verdade, ainda falando dos sacerdotes, é no nono episódio, em que Saul manda matar todos os sacerdotes da Escola de Profetas (Que eu brincava comigo mesmo que era um seminário). A imagem de um a um sendo passado no fio da espada era forte, mesmo não mostrando nada escancaradamente. E não pense você, leitor, que os sacerdotes são da paz. Logo no primeiro episódio (até primeiras cenas), o profeta passa a espada na cabeça do rei de não-sei-aonde. O Efeito especial era tosco, mas é pra se ver como na época as coisas funcionavam...
Funcionavam... Não que hoje muita coisa tenha mudado daquela época... Sim, o mundo era guerra, e nisso a TV Macedo também pensou... Eram cenas de batalhas que não pareciam de filme, eram ainda meio forçadas, mas que eram salvas por elenco, figurino e cenário. Me espantava como a Record se dedicou nesses poréns. Não tinha um soldado, seja-se ele do Exército Israelita ou dos exércitos inimigos, sem armadura ou armamento. Foi inclusive numa guerra que passou a se desenrolar a parte que decidiria um dos ápses dessa história e o início da próxima. Foi na guerra, se não me engano contra os amonitas, que Bate-Seba (Que na tradução da minha Bíblia se chama Betsabéia) "deixou a casa livre pro Ricardão", dando origem à uma gravidez por adultério, que culminaria do casamento com Davi. Claro, ela (e Davi também) pagou caro por seu pecado, e esse bebê, fruto de seu erro (errada é ela porque ela era mulher), morreu com uma semana de vida. Após o arrependimento do Rei, Bate-Seba deu a luz a Salomão, que se tornaria Rei de Israel após a morte de Davi. E nesse relacionamento amoroso, surgiu na minissérie uma das cenas que achei a mais desnecessária da série: O banho de Bate-Seba, que Davi observa da janela (18º episódio). Tendo em vista o público alvo da produção, a nudez não deveria ter sido abordada daquela maneira. Público conservador, mais religioso (Muitos até "carolas") não gosta muito disso. É escandaloso demais (No dia que passou isso eu não estava em casa pra assistir- ódio). Ainda no relacionamento, vemos a grande adaptação da Record pra poder fazer essa minissérie ser esse sucesso que foi: Bate-Seba não tem mais importância nenhuma na Bíblia após isso. Só reaparece de novo no I Reis pra denunciar a Davi que estava "roubando" o trono que deveria ser Salomão (Não é o caso de usurpação da minissérie, é outro). E isso além das outras inúmeras adaptações que a Record inventou para a minissérie. Mas nesse porém das adaptações da Record, vou entrar mais tarde, falemos da Família de Davi.
Sua primeira esposa (também queria saber por que Davi tinha tantas esposas. Até onde eu sei, isso é proibido pela Lei Mosaica) problemática e do mal, que também não tem importância quase nenhuma na Bíblia, deu o ar de vilã na história. Mas ninguém foi tão mal quanto o primigênito Amnon, que teve a coragem de estuprar a própria (meia) irmã... Uma cena que também... Uma passagem aliás, que nos parece inconcebível, que na época não era tão anormal. Ele inclusive se quisesse podia se casar com ela. Porém isso não tira a tragédia da história. Sim, o cara tinha muitos problemas familiares, não bastando esse o filho ainda o toma o trono. Mas que toda essa tragédia sirva para vermos que não é por que tudo isso acontece, que Deus nos abandonará. Davi era ungido do Senhor, era nobre e rico, e sofreu tudo que sofreu, não pense que você pobre e plebeu (Se a rainha da Inglaterra ou o Imperador do Japão me estiverem lendo, não se considerem na citação) não vai sofrer também. O que te iguala a Davi é o fator Deus, mas importante que os outros dois.
Ainda voltando pra minissérie, pra não me prolongar muito, vale dizer que o fator "Bíblico" deu umas pifada geral na cabeça da autora... Além das duas personagens que foram "importantezadas" na obra, ainda podemos citar Rachel, filha de Joabe, e sua paixão por Mefibosete que na história original não existe (Raquel não existe. Não contente por sua inexistência, ela ainda quer lutar e vira herói-de-guerra), o romance de Tamar e Hussai não existe, assim como o de Tirsa e Joabe, nem a amizade de Ítai e Davi na Filistéia. Esses são alguns exemplos, existem mais que, quando você, leitor que lê a Bíblia, assistir à minissérie vai reparar também. E além de incluir pedaços na história, ainda pulou toda a parte final de II Samuel, após a morte de Absalão (E falando em final, que final que a Record deu à minissérie... Eu quase chorei no sofá), toda a parte de Davi no Primeiro Livro dos Reis (Que já é mais da história do Rei Salomão) e alguns trechos no meio da história bíblica. Porém, mesmo com essas adaptações, a história foi contada, e o importante foi isso. E diga-se de passagem, muito bem contada.
Volto a parabenizar a Rede Record de Televisão por este grande trabalho, e já desejo sorte à próxima produção baseada em uma história Bíblica da Record, "José, de escravo a governador", com estreia prevista pra janeiro de 2013. Que consiga superar Rei Davi, e se o fizer, não terei nem o que dizer à Rede Record.
Ah, e se você se interessou pela minissérie e a quer assistir, a previsão de lançamento do box de DVD's é para o começo do mês que vem. Caso não queira esperar nem gastar dinheiro, o Portal R7 disponibilizou gratuitamente todos os episódios na internet, que você pode ver neste link (nescessita-se um e-mail do R7). Já se você curte uma pirataria e boa qualidade, vários canais no YT também disponibilizaram de graça a minissérie, e de todos recomendo este do usuário que se intitula "The Kelmis", por onde baixei os episódios pra mim.
Encerro dizendo novamente, é comprida leitor, é, mas eu digo, você não perderá seu tempo assistindo, é maravilhosa.
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