quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

As placas dos carros e a capacidade humana de se acostumar

imagem: Motos 2023
   
    É verão e a maior das alegrias da classe média baixíssima é juntar o carro, o ônibus, reunir a família e/ou os amigos e descer para a praia, curtir uma semana de areia, água salgada e barriga pra cima (imagino que excluam-se desse grupo as pessoas que moram na praia). Eu, como membro ativo da supra citada classe, também fiz esse passeio.

    Foram quilômetros e quilômetros de estrada, uma semana em uma cidade fortemente turística e uma coisa despertou a minha atenção: quando foi que paramos de procurar o nome das cidades nas placas dos carros?

    Sim. Isso é algo que eu não sei dizer se aconteceu só comigo, mas eu creio que tanto nos acostumamos com os modelos novos de placas automotivas - o "padrão do Mercosul" - que perdemos o tal costume, que ao menos na minha observação pessoal, era muito próprio do brasileiro, principalmente durante viagens longas. 

    Antes de seguir com o texto, vou contextualizar a história, para o caso de você ser uma pessoa muito distraída ou totalmente desinformada: por muito tempo utilizou-se no Brasil o modelo de placa de carro (e moto também) como o representado abaixo, com as letras e os números abaixo de uma inscrição com o nome do estado e do município onde o veículo foi registrado. A partir de 2020 passou a ser obrigatório em todo o país um novo modelo de identificação veicular, seguindo o modelo da imagem que abre este post. A placa trás mais elementos de segurança, mas exclui de seu desenho o local de origem do motorista.

imagem: Grupo Otimiza

    Muitas pessoas questionaram essa mudança na época, só que a lei é a lei e a gente não tem muito o que fazer contra ela. Mas não é sobre as placas que eu quero falar (embora já tenha gasto três parágrafos só falando delas)! O que me veio à cabeça, com essa questão dos nomes, é o quanto o ser humano tem o poder de se acostumar com as coisas, sejam elas boas ou ruins. 

    Veja, foram poucos os anos que se passaram desde essa mudança e pessoas que sempre utilizaram desse meio como uma forma de se entreter fora de casa simplesmente o deixaram de fazer. Provavelmente no começo com um pouco de frustração e mais adiante com bastante conformismo. Quando nos demos conta, nem sequer procurávamos mais pela localização dos carros.

    Imagino que isso possa ser explicado pela rotina, pela superação dos traumas, por alguma questão dos lobos dos cérebros ou das terminações nervosas centrais ou mesmo por qualquer outro argumento psicológico devidamente embasado. Como eu não sei nada disso, não vou ficar inventando diagnósticos. Queria apenas deixar essa reflexão mesmo. O caso das placas mostra muito sobre nossa natureza. Imagino que se acostumar é sobreviver e esquecer velhos costumes, abandonar hábitos antigos nada mais é do tocar a vida pra frente. Se não notamos que paramos de procurar pelo nome das cidades nas placas, por que viver atrás de rememorar, fora deste exemplo tão específico, coisas que já não estão mais no nosso cotidiano, no nosso dia a dia, como se fossem as placas cinzas de um VW Gol 2012 recém adquirido?

    Sim, eu sei que não é fácil deixar hábitos e costumes, mas pode se tornar mais simples de fazê-lo se pararmos de olhar para uma parte tão específica da chapa e começarmos a reparar, talvez, no quanto ela ficou mais bonita e colorida. É a mesma coisa? É bem provável que não, mas já é uma nova forma de admirar aquela mesma estrada do começo do texto, que de qualquer maneira, você vai ter que, enfrentar, com ou sem os seus passatempos de outrora. 

    Ah, e se você ainda assim é saudosista do nome das cidade, não desanime. O vídeo abaixo mostra o quanto essa placa mudou desde que desembarcou no Brasil (até 2019). Pode ter certeza de que é só questão de tempo para que a atualizem algumas outras vezes. Só não cometa o erro de esperar que elas voltem iguais. 

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Uma dica de série para a Record


imagem: Wikimedia Commons

    Fui ao cinema assistir ao filme dos Mamonas Assassinas nesses últimos dias. Um filme que que cumpre sua missão em divertir o público e, ao menos na minha opinião, que está bem longe de ser essa tragédia toda que tanta gente anda dizendo na internet. Bom, mas não é para falar do filme dos meninos de Guarulhos que eu estou aqui. O longa metragem dos Mamonas me serve de gancho neste post por um pequeno detalhe que passa desapercebido pelo público comum (e que eu não vi ser creditado em momento nenhum, nem na abertura nem no encerramento da película): esse filme não era para ser um filme, mas uma série. Uma série que seria exibida, e inclusive foi até mesmo anunciada, pela Rede Record de Televisão. Não é preciso dizer que isso nunca aconteceu. 

    Eu não sei os motivos disso então não cabe a mim fazer especulações. Posso, entretanto, supor que esse tipo de conteúdo passa bem longe da linha editorial do canal, descaradamente focado em um público mais cristão, majoritariamente evangélico, e conservador. Há problema nisso? Ao meu ver, nenhum. Todos têm a liberdade de produzir e consumir aquilo que lhe seja mais rentável, ou mais aprazível. Mas é inegável que a série biográfica de uma banda que se consagrou pelo "besteirol" típico dos anos 1990 talvez não fosse ter muito espaço na telinha do telespectador médio da Record.


    Todo esse contexto denuncia o que é tratado no tuíte (eu não sei se os tuítes ainda se chamam tuítes após o Twitter deixar de ter esse nome) destacado acima. Não, ele não é irônico, eu de verdade acredito que a Record deveria fazer uma série (série, não novela) biográfica sobre a vida de João Ferreira de Almeida, o tradutor da Bíblia para o português.

Exemplo de Bíblia atual com a
tradução de João Ferreira de Almeida.
imagem: Lucas R. F. Maester
    Os motivos são vários. O principal deles é que a vida deste homem realmente merece nossa atenção. Li recentemente uma reportagem sobre o mesmo na versão brasileira do site da BBC (que você pode conferir aqui). Nascido em Portugal, foi ainda cedo para a Ásia e muito jovem já realizava o trabalho de tradução que o consagraria.

    Vale destacar também o "espírito da Reforma", muito presente na época de João (século XVII), o que foi sua glória e sua desgraça. A glória por ter apresentado aos público lusófono a Bíblia em sua língua, já a desgraça por ter sido mal recebido em quase todos os lugares por onde passou, devido à sua burlesca intolerância religiosa, direcionada à Igreja Católica. 

    Vale lembrar que em 2017 já pipocavam notícias de uma suposta série retratando a vida do "pai da Reforma Protestante", Martinho Lutero, na TV da Barra Funda. Ficou só na notícia mesmo.

  Por fim, é um nome com a qual milhares, senão milhões de brasileiros se deparam diariamente (ou dominicalmente) e para maioria das pessoas, "nunca nem tchum" de quem é esse cara - como se diria aqui na minha cidade. Pessoas essas que são, imagina-se, em sua grande maioria o público comum da Record.

    E sobre a parceria, ela realmente pode acontecer? Aí eu já não tenho como saber, mas sendo uma personalidade portuguesa, por que não tentar? São cooperações que, dentro de circunstâncias parecidas, a concorrência consegue (e ainda seria pertinente para evitar, ou ao menos atenuar, qualquer tipo de proselitismo).

    E ah, Record, só uma última coisa: caso esteja lendo este texto, não exite tanto em lançar sua produção. Vai que no meio do caminho ela vira filme de novo, né?

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Corrida



    Esse post deveria ter ido ao ar anos atrás. 2017, para ser mais exato. Entre idas e vindas deste blogue, por motivos desconhecidos do universo, este rascunho sempre ficou para depois. 

    Passados vários anos desde sua programação original, quanto minha vida mudou? Me lembro que quando separei estes dois vídeos e me propus a lançar este texto eu vivia uma fase relativamente saudável, quando o assunto era atividade física. Um atleta nunca fui, mas o ato de dar minhas corridinhas animava meus fins de tarde. Não eram grandes distâncias, nunca consegui, como tantos, correr por 5, 10 quilômetros numa toada só, mas me divertia. 

    A corrida havia me desenvolvido rotina, autonomia, responsabilidade e muitas outras coisas. Mas, como vocês devem imaginar, eu parei. Em 2017, no auge do meu desemprego (época que não é nem boa de se lembrar), era fácil me programar para todo dia - ou quase todo dia -, sair de casa apenas para andar. Com as responsabilidades do emprego e a inconsistência de horário na carreira de professor (horário picado mata qualquer um), esse costume foi ficando de lado. Às vezes voltava, mas logo se perdia. E o sedentarismo tomou conta de mim.

    Alguns anos mais tarde e consideravelmente mais gordo e de férias, me esforço retomar o costume. Por enquanto não com as corridas, mas com as caminhadas. Essa postagem, uma das que está retomando as atividades do blogue, está aqui para me servir de "inspiração". Não é um compromisso com vocês e talvez nem um compromisso comigo, mas é a rememoração de um tempo que pode sim voltar!

    Que esse texto sirva de inspiração para mim e também para você, aí do outro lado. Se movimentar, afinal, é bom demais!

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

É quase um ciclo de Olimpíada e Copa do Mundo

     A última publicação deste blogue foi em 2021. Recém saíamos da pandemia, a vida ia voltando ao normal e quem seguia na anormalidade era esta página. Sim, anormalidade, porque o normal dela é não ter coisa alguma sendo publicada (como em breve eu sei que ficará de novo).


    Mas enfim, de 2021 até 2024 se passaram coisa de três anos. Quase um ciclo de Copa do Mundo e Olimpíada, como diz o título desta postagem. Três anos que consagraram os vídeos curtos, acenderam um sinal de alerta sobre o excesso de streamings no mercado, afundaram ainda mais o veículo televisão e não chegaram nem perto de ressuscitar ou mesmo reanimar o mercado dos textos escritos. 


    Sim, essa mídia é decadente e não mostra sinais de recuperação. Não tem um porquê de eu voltar pra cá, porém, estou aqui novamente. De início, com a intenção de publicar alguns rascunhos que ficaram para trás e mais adiante na esperança de tornar, novamente, este um espaço para minhas reflexões pessoais. 


    Aproveitem este site enquanto ele estiver ativo. Nos próximos dias, muito provavelmente, pipocará por aqui muito conteúdo novo. Mas já adianto, não se iludam muito não. Na correria do dia a dia, não é fácil manter um espaço como este. 


    Mas bom, sem mais delongas, bom retorno a mim e a todos e nos vemos nos próximos posts!