Tivemos na noite de ontem o primeiro capítulo da novela Apocalipse, proposta ousada da Record para dar sequência a seu "universo bíblico" na televisão. Ousada por querer tratar de um episódio do Livro Sagrado muito debatido - inclusive, talvez o mais debatido de toda a História - por teólogos, líderes espirituais, curiosos e outros mais que se debruçam no campo da religião, mas que entretanto, mesmo após milênios, continua sem qualquer esclarecimento definitivo.
Pode parecer contraditório, mas talvez justamente por isso eu ainda ache bacana a iniciativa do canal de abordar este assunto. Primeiramente por ser algo do interesse de todos. Não deve haver uma pessoa em toda a Terra que nunca se pegou pensando nesse "fim do mundo". E isso independe de qualquer fé, de você conhecer ou não o dito Apocalipse de São João, que "guia" o mundo cristão (preste atenção nas aspas lá atrás) e a novela nesse tema. Todos gostamos e cada um de nós tem uma ideia diferente sobre isso. Ponto. E é nesse momento que entra o quase certo problema do folhetim, apresentar apenas uma visão e uma visão discriminatória.
Obviamente, quem se interessa pela área já sabe da ligação quase que direta da Record com a Igreja Universal do Reino do Deus. Seu dono é o líder e fundador da denominação religiosa, então não é estranho que muitos já liguem na novela esperando ver nela toda a doutrina da igreja em questão. Porém, essa relação não é do conhecimento de todos. Entregar para o grande público, que sabemos ser formado por evangélicos, católicos, espíritas, umbandistas, ateus, muçulmanos e adeptos de infinitas outras crenças um produto totalmente direcionado é algo praticamente criminoso. E sim, você pode dizer que todas as emissoras fazem isso e eu vou te dar razão, pois não existe conteúdo artístico isento ideologia (e não adianta dizer que não, pois é a verdade). Só que a questão aqui não é essa.
Vejam o trailer que deixei anexado na abertura desta postagem. Com apenas oito minutos já fica claro que ali existem religiões "certas" e "erradas". O simpatismo semita da Record e da IURD já aparece e logo no primeiro capítulo ganha enorme destaque. Na prévia ainda vemos a influência que os pastores evangélicos terão na trama. Cenas mostram ainda um pessoal vestido de forma muito similar aos membros do alto escalão da Igreja Católica, sendo apresentados como os articuladores de todo o mal. Não chegam a mostrar outros grupos - ou se mostram eu não pude captar - nos vídeos promocionais nem tampouco no episódio inaugural, mas já deu pra identificar que o jogo de heróis e vilões está muito bem desenhado, não? E num país multiculturalista como o nosso e cada vez mais polarizado por grupos e grupos que não querem nem saber de dialogar entre si, será que uma novela com esse tipo de abordagem é mesmo necessária?
Pode parecer contraditório, mas talvez justamente por isso eu ainda ache bacana a iniciativa do canal de abordar este assunto. Primeiramente por ser algo do interesse de todos. Não deve haver uma pessoa em toda a Terra que nunca se pegou pensando nesse "fim do mundo". E isso independe de qualquer fé, de você conhecer ou não o dito Apocalipse de São João, que "guia" o mundo cristão (preste atenção nas aspas lá atrás) e a novela nesse tema. Todos gostamos e cada um de nós tem uma ideia diferente sobre isso. Ponto. E é nesse momento que entra o quase certo problema do folhetim, apresentar apenas uma visão e uma visão discriminatória.
Obviamente, quem se interessa pela área já sabe da ligação quase que direta da Record com a Igreja Universal do Reino do Deus. Seu dono é o líder e fundador da denominação religiosa, então não é estranho que muitos já liguem na novela esperando ver nela toda a doutrina da igreja em questão. Porém, essa relação não é do conhecimento de todos. Entregar para o grande público, que sabemos ser formado por evangélicos, católicos, espíritas, umbandistas, ateus, muçulmanos e adeptos de infinitas outras crenças um produto totalmente direcionado é algo praticamente criminoso. E sim, você pode dizer que todas as emissoras fazem isso e eu vou te dar razão, pois não existe conteúdo artístico isento ideologia (e não adianta dizer que não, pois é a verdade). Só que a questão aqui não é essa.
Vejam o trailer que deixei anexado na abertura desta postagem. Com apenas oito minutos já fica claro que ali existem religiões "certas" e "erradas". O simpatismo semita da Record e da IURD já aparece e logo no primeiro capítulo ganha enorme destaque. Na prévia ainda vemos a influência que os pastores evangélicos terão na trama. Cenas mostram ainda um pessoal vestido de forma muito similar aos membros do alto escalão da Igreja Católica, sendo apresentados como os articuladores de todo o mal. Não chegam a mostrar outros grupos - ou se mostram eu não pude captar - nos vídeos promocionais nem tampouco no episódio inaugural, mas já deu pra identificar que o jogo de heróis e vilões está muito bem desenhado, não? E num país multiculturalista como o nosso e cada vez mais polarizado por grupos e grupos que não querem nem saber de dialogar entre si, será que uma novela com esse tipo de abordagem é mesmo necessária?
Mas só antes de encerrar, uma questão: será que dá pra fazer uma produção bíblica sem correr o risco de esbarrar nesse dilema? Como eu já disse lá em cima, em qualquer obra é impossível escapar do viés do autor, mas talvez existam jeitos para botar ali suas opiniões sem faze-lo de forma provocativa. É bom que se entenda, o problema não é o ponto de vista da Igreja Universal, pois em uma democracia ela deve ter sim todo o direito de se expressar, mas ao mesmo tempo, nessa mesma condição, ela não tem o direito de pisar em outros credos. Os textos bíblicos (assim como quaisquer textos) podem e devem ser trabalhados de diversos modos. Chegaram até onde chegaram pois permitem isso. O meu medo é que a Record tenha escolhido o pior deles para escrever sua adaptação.
O capítulo de estréia da novela você pode assistir através deste link ou no vídeo abaixo (que pode requerer assinatura paga):
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