É normal vermos em redes sociais ou ouvirmos em conversas informais do nosso dia a dia opiniões contrárias à construção de grandes templos religiosos. Discursos como "esse dinheiro poderia ser usado para alimentar um número X de pobres" ou "se Jesus voltasse à Terra hoje jamais aprovaria essa extravagância" são argumentos bastantes comuns. Em meio a essa eterna polêmica (que já deve existir desde tempos imemoriais da humanidade) e aproveitando o embalo de duas viagens recentes que fiz, gostaria de propor uma reflexão sobre o assunto.
Antes de tudo, vou chamar estas edificações pelo nome técnico que elas têm, "megatemplos". E vale dizer que esse tipo de construção já existe desde a Antiguidade, mas é com a secularização da sociedade que eles se tornam um tema de debate, seja na perspectiva interna, a partir do olhar do próprio culto e seus respectivos elementos; seja no perspectiva externa, tomando como base o senso comum, a opinião das pessoas que podem viver ou não o dia a dia da fé que está ali sendo representada, mas que têm (e podem ter) um pensamento a respeito desse fenômeno. A linha de pensamento que vou seguir tenta levar em conta um pouco destes dois universos.
Os dois que visitei recentemente foram o Santuário Nacional de Aparecida, em Aparecida-SP e o Templo de Salomão da Igreja Universal do Reino de Deus, na capital paulista (um como fiel e outro como turista). São obras muito distintas entre si, mas que guardam pontos em comum. Ambas pertencem a instituições altamente relevantes no cenário brasileiro e atraem multidões às missas e reuniões ali realizadas. São também edifícios que impactam na paisagem, seja pelo seu tamanho, seja pela sua beleza (ignorá-los é algo bem difícil). Por fim, estando dentro deles, fica claro que tanto em um como no outro a celebração é o objetivo final, mas inúmeras outras atrações periféricas a esse objetivo estão ali presentes. E elas podem ser tanto religiosas, como roteiros com ensino, acolhimentos vocacionais, etc.; como comerciais, com lojas e lanchonetes, por exemplo.
Mas o que eu penso a respeito disso? É errado construir templos gigantes, para receber pessoas e cultuar divindades? Não, não é, mas com alguns poréns. A edificação religiosa permite uma experiência com o sagrado para além daquela que o fiel teria em sua comunidade de origem? Ou em outras palavras, a pessoa que visita esse templo consegue aprender algo ou se conectar com Deus de uma forma diferente daquela que ele(a) tem todo domingo na igreja do seu bairro? Se não, qual a necessidade de se gastar milhões de reais em um prédio, se seu único diferencial é o número de cadeiras?
Esse contato pode se dar através da arte, das atividades pedagógicas e culturais que a pessoa só vai encontrar ali ou mesmo através de uma história específica do local (é o lugar onde um santo viveu, por exemplo). Construir um barracão gigante onde não se tem uma preocupação estética, um cuidado especial com a sacralidade ou uma objetividade evangelística (no caso do cristianismo) é algo que acrescenta o que, exatamente, à vida do fiel? Pois se é pra gastar dinheiro com ônibus, com alimentação, com hospedagem e com a oferta, que então o destino lhe propicie uma experiência, uma transformação de vida. Caso contrário, por que mesmo sair de sua casa e de sua igreja de origem apenas para viver um mais do mesmo?