É verão e a maior das alegrias da classe média baixíssima é juntar o carro, o ônibus, reunir a família e/ou os amigos e descer para a praia, curtir uma semana de areia, água salgada e barriga pra cima (imagino que excluam-se desse grupo as pessoas que moram na praia). Eu, como membro ativo da supra citada classe, também fiz esse passeio.
Foram quilômetros e quilômetros de estrada, uma semana em uma cidade fortemente turística e uma coisa despertou a minha atenção: quando foi que paramos de procurar o nome das cidades nas placas dos carros?
Sim. Isso é algo que eu não sei dizer se aconteceu só comigo, mas eu creio que tanto nos acostumamos com os modelos novos de placas automotivas - o "padrão do Mercosul" - que perdemos o tal costume, que ao menos na minha observação pessoal, era muito próprio do brasileiro, principalmente durante viagens longas.
Antes de seguir com o texto, vou contextualizar a história, para o caso de você ser uma pessoa muito distraída ou totalmente desinformada: por muito tempo utilizou-se no Brasil o modelo de placa de carro (e moto também) como o representado abaixo, com as letras e os números abaixo de uma inscrição com o nome do estado e do município onde o veículo foi registrado. A partir de 2020 passou a ser obrigatório em todo o país um novo modelo de identificação veicular, seguindo o modelo da imagem que abre este post. A placa trás mais elementos de segurança, mas exclui de seu desenho o local de origem do motorista.
Muitas pessoas questionaram essa mudança na época, só que a lei é a lei e a gente não tem muito o que fazer contra ela. Mas não é sobre as placas que eu quero falar (embora já tenha gasto três parágrafos só falando delas)! O que me veio à cabeça, com essa questão dos nomes, é o quanto o ser humano tem o poder de se acostumar com as coisas, sejam elas boas ou ruins.
Veja, foram poucos os anos que se passaram desde essa mudança e pessoas que sempre utilizaram desse meio como uma forma de se entreter fora de casa simplesmente o deixaram de fazer. Provavelmente no começo com um pouco de frustração e mais adiante com bastante conformismo. Quando nos demos conta, nem sequer procurávamos mais pela localização dos carros.
Imagino que isso possa ser explicado pela rotina, pela superação dos traumas, por alguma questão dos lobos dos cérebros ou das terminações nervosas centrais ou mesmo por qualquer outro argumento psicológico devidamente embasado. Como eu não sei nada disso, não vou ficar inventando diagnósticos. Queria apenas deixar essa reflexão mesmo. O caso das placas mostra muito sobre nossa natureza. Imagino que se acostumar é sobreviver e esquecer velhos costumes, abandonar hábitos antigos nada mais é do tocar a vida pra frente. Se não notamos que paramos de procurar pelo nome das cidades nas placas, por que viver atrás de rememorar, fora deste exemplo tão específico, coisas que já não estão mais no nosso cotidiano, no nosso dia a dia, como se fossem as placas cinzas de um VW Gol 2012 recém adquirido?
Sim, eu sei que não é fácil deixar hábitos e costumes, mas pode se tornar mais simples de fazê-lo se pararmos de olhar para uma parte tão específica da chapa e começarmos a reparar, talvez, no quanto ela ficou mais bonita e colorida. É a mesma coisa? É bem provável que não, mas já é uma nova forma de admirar aquela mesma estrada do começo do texto, que de qualquer maneira, você vai ter que, enfrentar, com ou sem os seus passatempos de outrora.
Ah, e se você ainda assim é saudosista do nome das cidade, não desanime. O vídeo abaixo mostra o quanto essa placa mudou desde que desembarcou no Brasil (até 2019). Pode ter certeza de que é só questão de tempo para que a atualizem algumas outras vezes. Só não cometa o erro de esperar que elas voltem iguais.
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