A mascote dos Jogos Pan e Parapan Americanos de Lima 2019 foi revelada na noite de ontem. A personagem que representará o maior evento multidesportivo da América foi escolhida em votação popular e teve sua inspiração em um ídolo indígena pré-colombiano. Seu nome é Milco. E eu fiquei muito feliz pelo resultado.
Calma, vou explicar tudo certinho pra vocês. O Comitê Organizador dos Jogos de Lima promoveram um processo pra lá de bacana para escolher o boneco que representaria a competição. Como vocês devem saber, mascotes são elementos vitais na divulgação desse tipo de evento, além de também serem uma das maiores fontes de renda por todo o período que antecede o torneio, devido a seu apelo entre as crianças, o que atrai inúmeras empresas para seus licenciamentos (pode-se até dizer que marketing de Pan, Olimpíada e Copa do Mundo, citando apenas os maiores exemplos, se divide entre antes e depois do lançamento das mascotes). Até por isso, a escolha da mascote tem de ser a mais criteriosa possível. Porém, ao contrário do que aconteceu por aqui, todo o caminho percorrido até a definição do resultado, passando pela confecção do desenho até a escolha do vencedor, foi aberto à participação do público. Quem quisesse poderia enviar um desenho - contanto que fosse peruano ou naturalizado -, com nome e justificativa, e uma comissão escolheria os três finalistas que seriam colocados em uma eleição via internet. A votação ficou no ar por coisa de mais ou menos um mês, e nesta fase qualquer pessoa, em qualquer parte do planeta, poderia opinar.
Os candidatos foram Wayqi, uma espécie de lagartixa encontrada nos sítios arqueológicos da capital peruana, Amantis, representando uma flor de amancaes, planta natural da região de Lima e o já citado Milco, adaptação de um cuchimilco, estatueta indígena para usos religiosos. E indígena, nesse caso vale ressaltar, não necessariamente quer dizer "Inca", que com certeza é o primeira palavra que nos vem à cabeça quando pensamos em "índios" e "Peru". O grupo em questão eram os Chancay, que posteriormente até chegou a ser anexado ao poderoso Império Inca, mas não se pode chamá-los de incas. E eu votei nesse terceiro, que sinceramente, achei o mais feinho, mas em compensação, o que tinha a justificativa mais legal. Não imaginava que ele fosse ganhar (tinha certeza que quem ganharia seria lagartixa), mas, feliz ou infelizmente, eu estava errado.
Eu não sei como os peruanos lidam, emocionalmente, com seu passado. Pela lógica, diria que com grande orgulho, por estarem sobre o território que um dia pertenceu a uma das maiores civilizações que conhecemos. Muitos peruanos - e andinos em geral -, com certeza até hoje descendem de pessoas que séculos atrás fizeram parte do grande império incaico, dizimado pelos espanhóis no século XVI. Mas como já disse, eu não sou de lá, não pertenço àquela realidade, então pra mim é muito difícil afirmar qualquer coisa, mas trazendo isso para a realidade nossa, imaginem: qual seria a chance de algum elemento ligado à cultura Tupi-Guarani, Yanomami, ou de qualquer outro grupo indígena brasileiro, ganhar uma disputa dessas? Com certeza não passariam nem pela peneira do juri responsável pela escolha dos finalistas!
Dos três grandes eventos, quatro com as Paralimpíadas(que eu não costumo separar das Olimpíadas, por ser tudo "Rio 2016"), que tivemos recentemente no Brasil, os mascotes foram Cauê, um solzinho sorridente para o Pan de 2007, Fuleco, o tatu bola que amávamos odiar na Copa de 2014, e Vinicius e Tom, representantes da riquíssima diversidade de fauna e flora do nosso país nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do ano passado. A impressão que fica é que adoramos nos mostrar através de nossa natureza, mas nunca por nosso povo. E essa regra serve até para o concurso de trajes típicos do Miss Universo. E tudo bem, não temos obrigação nenhuma de representar essa ou aquela comunidade em competição nenhuma, ainda mais quando estas envolvem cifras muito altas, como é o caso desses eventos que citei, mas a reflexão não deixa de ser válida. Se perguntem novamente, qual a probabilidade?
Sei que a escolha do mascote é uma coisa muito pequena, perto de tantas outras, mas é algo que me deixou feliz. O "orgulho" de ser nativo-americano é algo que resiste em alguns lugares. E se levarmos em conta o enorme número de crianças que participaram dessa campanha (houveram votações nas escolas, pelo que pude acompanhar nas redes sociais), talvez nossa - sim, nossa - alegria possa ser ainda maior.
Eu não sei como os peruanos lidam, emocionalmente, com seu passado. Pela lógica, diria que com grande orgulho, por estarem sobre o território que um dia pertenceu a uma das maiores civilizações que conhecemos. Muitos peruanos - e andinos em geral -, com certeza até hoje descendem de pessoas que séculos atrás fizeram parte do grande império incaico, dizimado pelos espanhóis no século XVI. Mas como já disse, eu não sou de lá, não pertenço àquela realidade, então pra mim é muito difícil afirmar qualquer coisa, mas trazendo isso para a realidade nossa, imaginem: qual seria a chance de algum elemento ligado à cultura Tupi-Guarani, Yanomami, ou de qualquer outro grupo indígena brasileiro, ganhar uma disputa dessas? Com certeza não passariam nem pela peneira do juri responsável pela escolha dos finalistas!
Dos três grandes eventos, quatro com as Paralimpíadas(que eu não costumo separar das Olimpíadas, por ser tudo "Rio 2016"), que tivemos recentemente no Brasil, os mascotes foram Cauê, um solzinho sorridente para o Pan de 2007, Fuleco, o tatu bola que amávamos odiar na Copa de 2014, e Vinicius e Tom, representantes da riquíssima diversidade de fauna e flora do nosso país nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do ano passado. A impressão que fica é que adoramos nos mostrar através de nossa natureza, mas nunca por nosso povo. E essa regra serve até para o concurso de trajes típicos do Miss Universo. E tudo bem, não temos obrigação nenhuma de representar essa ou aquela comunidade em competição nenhuma, ainda mais quando estas envolvem cifras muito altas, como é o caso desses eventos que citei, mas a reflexão não deixa de ser válida. Se perguntem novamente, qual a probabilidade?
Sei que a escolha do mascote é uma coisa muito pequena, perto de tantas outras, mas é algo que me deixou feliz. O "orgulho" de ser nativo-americano é algo que resiste em alguns lugares. E se levarmos em conta o enorme número de crianças que participaram dessa campanha (houveram votações nas escolas, pelo que pude acompanhar nas redes sociais), talvez nossa - sim, nossa - alegria possa ser ainda maior.
Milco, Wayqi e Amantis, as três candidatas a mascote dos Jogos Pan e Parapan Americanos de Lima 2019, pela ordem da classificação final imagem: Lima 2019 |