segunda-feira, 14 de agosto de 2017

A Copa do Mundo destruiu a história de mais um estádio




Acabou ontem o Mundial de Atletismo da IAAF (Associação Internacional das Federações de Atletismo), em Londres. Marcado pela despedida de Usain Bolt das pistas - com o "Raio" encerrando a carreira com um inesperado bronze nos 100 metrosaquela lamentável lesão na prova do revezamento 4X100 -, a competição também me fez lembrar de outra coisa: a menos de um ano da Copa do Mundo de 2018, a que pé está o lendário Estádio Olímpico de Moscou, palco da final da competição, e que já sediou esse mesmo campeonato alguns anos atrás? Busquei, e o que eu vi não foi nada animador. 
O vídeo que escolhi para abrir este post é um referencial. Para assisti-lo, será necessária outra página (uma coisa meio chata, mas que tá ficando repetitiva a qualquer grande federação esportiva), mas caso você não a queira abrir, nem precisa, apenas a imagem de capa já serve. É um vídeo curto que mostra apenas o time-lapse da equipe de organização do "estádio-sede" do Mundial de Atletismo de 2013, realizado na Rússia. A foto que ilustra o vídeo mostra o Luzhniki (nome do estádio) antes de ser fechado para a fatídica reforma para a Copa.
Principal sede das Olimpíadas de 1980, o estádio é lembrado não apenas pelas medalhas conquistadas em suas pistas, mas também pelas cerimônias realizadas em seu interior. Divisoras de águas para o maior evento esportivo do mundo, as apresentações soviéticas trouxeram para essas festas, que até então eram bem simples, o clima da Guerra Fria. Executar um bom espetáculo era mostrar para o mundo o poderio de seu regime, de seu país. Pode-se dizer, inclusive, que foi a partir de Moscou que uma sede olímpica passou a disputar, informalmente, claro, com a próxima o título de "melhor show de todos os tempos" (todo mundo sabe que isso existe, afinal). Os cerimônias em questão foram tão marcantes que referências a eles foram vistas tanto nas apresentações de encerramento de Sochi 2014, como na abertura da Copa das Confederações deste ano, mais de três décadas após sua realização. Quando penso no Luzhniki, ouso coloca-lo lado a lado do Olímpico de Berlim e do Coliseu Memorial de Los Angeles, no hall de estádios mais importantes de toda a História Olímpica. E hoje não existe mais nada que remeta a esse passado, além, óbvio, da fachada. Foi-se toda a área que outrora foi destinado ao atletismo, junto do aspecto "redondo" que criava nas arquibancadas. E até a disposição de cores das cadeiras parece  ser outra.
Eu tenho o pleno conhecimento de que estádios olímpicos não se adequam mais aos padrões atuais de arenas futebolísticas, onde a proximidade com o campo deve ser prioridade (só o atletismo não paga suas contas, afinal). Mas aí lembramos que essa crítica é comum ao Maracanã, que era um estádio "normal", sem pista de corrida nem nada até seu fechamento em 2009, mas que em 2013 voltou tão descaracterizado quanto o campo moscovita. E o que impede que isso não vá acontecer também ao Estádio Azteca (México) para 2026 também? 
Estádios clássicos, que à época de suas construções seguiam outros modelos referenciais, hoje correm o risco de terem suas histórias jogadas no lixo devido a padrões de modernidade que sabe-se lá quem foi o responsável por decidir que são corretas, e que tudo antes disso estava errado! Apesar de que, se por um lado eu não vou reclamar, pois a modernidade também vai trazer um maior conforto, mais praticidade e uma melhor experiência ao torcedor, pelo outro, também vou ter que me indignar pelo modo com que isso é feito: você não precisa passar com um trator por cima de tudo que simbólico àquele espaço (as pistas do Luzhniki e a marquise do Maracanã, por exemplo) para torná-lo um lugar adequado aos "nossos tempos". É possível ser atual ao mesmo tempo em que se mantém histórico. A engenharia do século XXI já está desenvolvida o suficiente para isso. Claro que algumas coisas vão ter que mudar, isso é óbvio - e a tal "geral" do Mário Filho seria uma delas, aceitem isso -, mas o grosso do design ainda pode continuar. E se algum vier me falar que não, não dá, então eu vou achar que é hora da Engenharia, junto de todos os seus profissionais, botarem a mão na consciência e resetarem tudo que sabem até então, para se debruçar de novo nas pranchetas, pois nesses casos, sem a História, pra nada vai servir a modernidade.
E pra encerrar a argumentação, seguem as imagens do "new" Luzhniki Stadium (as imagens parecem ser de algum tipo de canal de notícias russo. Não tenho ideia do que eles dizem no vídeo, mas me baseando pela "mídia local" da Copa de 2014, acredito que estejam rasgando elogios à destruição, digo reconstrução do estádio):


Nenhum comentário:

Postar um comentário