quarta-feira, 22 de novembro de 2017

A maior propaganda evangélica do mundo?




Tivemos na noite de ontem o primeiro capítulo da novela Apocalipse, proposta ousada da Record para dar sequência a seu "universo bíblico" na televisão. Ousada por querer tratar de um episódio do Livro Sagrado muito debatido - inclusive, talvez o mais debatido de toda a História - por teólogos, líderes espirituais, curiosos e outros mais que se debruçam no campo da religião, mas que entretanto, mesmo após milênios, continua sem qualquer esclarecimento definitivo. 

Pode parecer contraditório, mas talvez justamente por isso eu ainda ache bacana a iniciativa do canal de abordar este assunto. Primeiramente por ser algo do interesse de todos. Não deve haver uma pessoa em toda a Terra que nunca se pegou pensando nesse "fim do mundo". E isso independe de qualquer fé, de você conhecer ou não o dito Apocalipse de São João, que "guia" o mundo cristão (preste atenção nas aspas lá atrás) e a novela nesse tema. Todos gostamos e cada um de nós tem uma ideia diferente sobre isso. Ponto. E é nesse momento que entra o quase certo problema do folhetim, apresentar apenas uma visão e uma visão discriminatória.

Obviamente, quem se interessa pela área já sabe da ligação quase que direta da Record com a Igreja Universal do Reino do Deus. Seu dono é o líder e fundador da denominação religiosa, então não é estranho que muitos já liguem na novela esperando ver nela toda a doutrina da igreja em questão. Porém, essa relação não é do conhecimento de todos. Entregar para o grande público, que sabemos ser formado por evangélicos, católicos, espíritas, umbandistas, ateus, muçulmanos e adeptos de infinitas outras crenças um produto totalmente direcionado é algo praticamente criminoso. E sim, você pode dizer que todas as emissoras fazem isso e eu vou te dar razão, pois não existe conteúdo artístico isento ideologia (e não adianta dizer que não, pois é a verdade). Só que a questão aqui não é essa. 

Vejam o trailer que deixei anexado na abertura desta postagem. Com apenas oito minutos já fica claro que ali existem religiões "certas" e "erradas". O simpatismo semita da Record e da IURD já aparece e logo no primeiro capítulo ganha enorme destaque. Na prévia ainda vemos a influência que os pastores evangélicos terão na trama. Cenas mostram ainda um pessoal vestido de forma muito similar aos membros do alto escalão da Igreja Católica, sendo apresentados como os articuladores de todo o mal. Não chegam a mostrar outros grupos - ou se mostram eu não pude captar - nos vídeos promocionais nem tampouco no episódio inaugural, mas já deu pra identificar que o jogo de heróis e vilões está muito bem desenhado, não? E num país multiculturalista como o nosso e cada vez mais polarizado por grupos e grupos que não querem nem saber de dialogar entre si, será que uma novela com esse tipo de abordagem é mesmo necessária?

Mas só antes de encerrar, uma questão: será que dá pra fazer uma produção bíblica sem correr o risco de esbarrar nesse dilema? Como eu já disse lá em cima, em qualquer obra é impossível escapar do viés do autor, mas talvez existam jeitos para botar ali suas opiniões sem faze-lo de forma provocativa. É bom que se entenda, o problema não é o ponto de vista da Igreja Universal, pois em uma democracia ela deve ter sim todo o direito de se expressar, mas ao mesmo tempo, nessa mesma condição, ela não tem o direito de pisar em outros credos. Os textos bíblicos (assim como quaisquer textos) podem e devem ser trabalhados de diversos modos. Chegaram até onde chegaram pois permitem isso. O meu medo é que a Record tenha escolhido o pior deles para escrever sua adaptação. 

O capítulo de estréia da novela você pode assistir através deste link ou no vídeo abaixo (que pode requerer assinatura paga):

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Recadinho

Vocês notaram que o blog deu uma pisada no freio, né? Eu disse que ia voltar ao normal,  que seria só até eu resolver uma coisas, depois voltaria com o ritmo frenético de postagens, mas não voltei. Pois então, quando ressuscitei esse espaço, lá no começo do ano eu realmente não fazia NA-DA. Não tinha emprego, não tinha com o que ocupar a cabeça então evidentemente tempo eu tinha de sobra. Mas agora eu tenho novas obrigações, tenho uma agenda de trabalho e atividades então meu tempo, evidentemente, escasseou. 

Não vou entrar em detalhes da minha vida profissional pois isso é algo que não lhes interessa, mas vim aqui para me explicar, pois sei que muitos leitores devem estar preocupados. Mas não precisam, pois eu apenas reescalonei minhas prioridades. Não vou parar com o blog, pois foi essa a promessa que fiz a vocês, mas ao menos por ora, minha média de publicações será essa, de três a no máximo (máximo mesmo) seis novos textos por mês.

E um último recado, vocês devem ter notado que no meu último post mudei mudei um pouco minha estrutura textual,  deixando um enter entre parágrafos, não? Pois então, este é o novo padrão aqui do blog, pois acho que a maioria dos meus textos meio longos, acredito que isto facilitará a leitura da parte de vocês. 

Agradeço a compreensão e até uma próxima oportunidade.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Os 30 novos santos do Brasil deixam um recado para o país





O Brasil - e a Igreja Católica em sua totalidade - ganhou neste último dia quinze 30 novos santos. Canonizados na Basílica de São Pedro pelo papa Francisco, os mártires de Cunhaú e Uruaçu, como são conhecidos, agora posam lado a lado de Frei Galvão e Madre Paulina (é, vamos considerar) no ainda discreto panteão de santos tupiniquins. Mas o que esses homens e mulheres brutalmente mortos naquelas então pequenas vilas do Rio Grande do Norte há mais de trezentos anos têm para nos falar hoje? 

Eu particularmente não acredito muito em coincidências, principalmente quando o assunto são as coisas do "mundo místico". O fato desse evento ter aparecido justamente nesse momento do Brasil, em que política e religião flertam entre si como em poucas vezes em nossa história, me pareceu muito providencial. Tempos de expressiva bancada evangélica no Congresso, ataques contra a arte, a mídia e educação sob alegação de uma suposta (e esse suposta está aqui por diversos motivos) moral cristã a ser violada e o advento de diversos grupos da sociedade civil e política invocando um conservadorismo que chega a assustar nos fazem lembrar de algo que foi essencial para o episódio do dito martírio no nordeste do Brasil (detalhes no vídeo que abre esta reportagem): a não separação entre Estado e religião.

Sim, esse grupo não foi assassinado por religião alguma lá em 1645, foi assassinado por um projeto de Estado, um modelo de "país" (que ainda não podia ser chamado desse jeito). Modelo em que o catolicismo infelizmente não podia fazer parte. Podemos acusar uma "inquisição protestante", termo que muitos sites gostam de trazer? Talvez até possamos, mas o protestantismo, propriamente dito, é o menos importe nessa história. Era um período de formação de identidades, criação de nações, expansão de impérios, onde o que pesa de verdade é apenas o nome Holanda. Holanda, que assim como várias outras nações europeias, aproveitaram da Reforma de Lutero (que aliás está comemorando 500 anos hoje) para adotar "novos cristianismos" para integrar seus projetos de Estado. E nesse contexto, pouca diferença faria a "igreja escolhida" pois o resultado seria o mesmo.

E o recado, pelo menos para mim, está mais do que claro: independente de você ser católico, evangélico ou muçulmano, se você tem em mente que toda a sociedade deve seguir a risca o seu código moral, não permitindo brecha para nenhum outro estilo de vida ou forma de visão e acha que a Lei deva dar garantia isso, pode ter certeza, só o que você está fazendo é abrindo caminho para o surgimento de outros 30, 40, 50 ou seja lá quantos novos mártires de Cunhaú e Uruaçu.

sábado, 28 de outubro de 2017

#Teleton20Anos




E o Teleton, icônica maratona televisiva, como Silvio Santos o chamou, realizada anualmente pelo SBT pra arrecadar fundos para a AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) chegou à sua vigésima edição. A iniciativa, adaptada de um formato que já existia em outros países chegou ao Brasil em 1998 e desde então já ajudou (e divulgou) com o tratamento de milhares de crianças e adultos dos quatro cantos do Brasil. 
E eu particularmente tenho um carinho muito grande por esse programa. Não, não conheço pessoalmente a AACD, tampouco sequer tive contato com algum de seus ex-pacientes. Minha única relação com a instituição é justamente essa, midiática e a distância, nesses finais de semana de outubro/novembro. E não digo isso com frieza ou falso puritanismo não! É nesse ponto que quero ressaltar a real importância do TeleTon. Eu não sou uma exceção, a maioria dos brasileiros com certeza também nunca teve contato com isso. Muitas pessoas, que inclusive, talvez nunca sequer viram - ou optaram por passar a vida fazendo de conta que essa realidade não existe - uma criança com uma deficiência grave precisando de um tratamento especializado (e que num país tão empobrecido como o nosso, infelizmente, muitas vezes é até inexistente). 
São pra essas pessoas, e pra mim, que o Teleton é importante. Eu posso afirmar, na pura base do achismo mesmo, que em vinte anos de programa muitas pessoas saíram de suas zonas de conforto, mostrando que o mundo não é tão cor de rosa como muita gente acha. 
Como o próprio Homem do Baú ressaltou no vídeo que eu destaquei acima, o mesmo que abriu os Teletons de 1998 e de 2017: "eu nunca pensei que as crianças nascessem assim". Mas sim, elas nascem. E como Silvio deu seu gesto concreto, cedendo mais do que um dia inteiro de programação à uma instituição de saúde, depois saindo de casa, forçando a voz e quebrando seu próprio cronograma, lá no fim do século passado, dê o seu também. Os telefones para você fazer sua doação estão na imagem abaixo:

imagem: Facebook.com/teletonoficial

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Eu também sou parte destes 300 anos

imagem: Portal A12

Ontem foi 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida. Ontem, difereciando-se um pouco dos demais dias da Padroeira, comemorou-se também o aniversário dos 300 anos do encontro da imagem no Rio Paraíba do Sul, em 1717. E há um ano que o Santuário Nacional de Aparecida e a Igreja do Brasil estava na expectativa desta data, com eventos, reflexões e até a concessão de indulgências. E eu, que também esperava pelo Jubileu, gostaria de deixar umas palavrinhas sobre esse dia tão especial. 
Antes de tudo, gostaria de já deixar avisado que não sou o cara daquelas fé lindas, que vemos na televisão ou presenciamos nas orações diárias de nossas mães e avós. Na verdade, minha história na Igreja Católica é até bastante recente, pois até meus treze, catorze anos, preferiria qualquer lugar aos templos religiosos. Depois disso me tornei quase que um "rato de igreja", até me chegar ao parâmetro que sigo agora, de cumprimento das obrigações litúrgicas e morais e quase que nada além disso. Não, não sou um exemplo a ser seguido, mas ainda me orgulho da minha luta diária pra não me deixar enfraquecer na fé. 
Já minha história com Aparecida talvez seja um pouco mais antiga. Desde muito pequeno que ia à "capital da fé" com minha família. A primeira vez deve ter sido com oito ou nove anos, quando não tinha sequer noção do que era uma romaria, tanto que me lembro muito pouco dessa e das próximas viagens. Sim, plural, pois nesse meu tempo de infância fomos uns dois ou três anos seguidos, quando o que mais me marcava era o caminho de volta, quase que um dia inteiro dentro do ônibus, vendo várias cidades pelo caminho. Depois disso, sabe-se lá Deus por que motivos, paramos com os passeios e voltamos já nos idos da minha adolescência, mais ou menos no começo da minha "vida religiosa" e desde então falhamos poucas vezes à essa "tradição". 
Não tenho histórias de milagres nem nunca chorei ao encontrar a imagem no seu nicho. Também tenho lá minhas críticas ao Santuário Nacional ao mesmo tempo que admiro seu "poder de marca" que extrapola as barreiras da religião. É inevitável, Aparecida, em todos os seus âmbitos, gera os mais diversos pensamentos e sentimentos, mas o que vale é saber o quanto sou, ainda que do meu jeito, eternamente grato à Mãezinha Aparecida por tudo que recebo - e que não é pouca coisa. As viagens à sua cidade, embora em muitos anos ache repetitiva e até meio chata, são praticamente a única oportunidade de um "rolê de família" que temos aqui em casa (além de ter sido onde eu aprendi a "viajar sozinho"). Sim, não viajamos muito, e quem me conhece também sabe que que não sou o cara mais família do mundo, mas saber que temos uma data que junta a nós quatro todo ano - ou quase todo ano - já acho que é mais do que motivo para agradecer dia e noite a Nossa Senhora Aparecida pela sua presença
Encerro este texto com meus vivas à Padroeira do Brasil, vivas aos seus 300 anos de glórias e histórias no nosso país e vivas, claro, a Nosso Senhor Jesus Cristo, sem o qual, nada disso sequer existiria. A tudo isso que falei, VIVA!



quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Apenas uma ideia para a final da Copa do Brasil



Como deve ser do conhecimento da maioria, hoje a noite teremos o segundo jogo da final da Copa do Brasil, entre Cruzeiro e Flamengo. Tendo o primeiro jogo terminado em 1 a 1 no último dia sete, a vantagem mínima fica com os mineiros, que jogam em casa. Mas nada disso importa neste texto. A final que vale aqui é a de 2018, 2019, e todas as que virão após essas. É uma "ideia-teste", bastante inspirado por modelos externos, mas que eu acho deveria ao menos ser experimentada. 
A decisão da Copa do Brasil é comumente realizada em duas partidas, uma nas dependências de um dos times, a outra nas do próximo. Para um país de dimensões continentais, talvez esse seja o modelo mais justo, mas e se ainda assim pensássemos em uma final de jogo único? 
Esse formato de final, pelo menos ao meu ver, é muito mais vantajoso que o temos atualmente. Pode proporcionar melhores oportunidades de marketing para os patrocinadores, aumenta a emoção e a expectativa do torcedor e provavelmente geraria muito mais audiência para a televisão. Mas como fazer isso dar certo? 
Primeiramente, numa jogada a la Liga dos Campeões da Europa, a cidade-sede do embate deveria ser escolhida já antes mesmo da competição começar. Seria, além de o mais justo para o aficionado poder se organizador, também uma forma de movimentar as arenas "abandonadas" da Copa do Mundo de 2014 e fazer girar o turismo no nosso país, além de levar um jogo dessa importância para lugares onde ele muito provavelmente nunca chegaria, mas que também abrigam apaixonados pelos grandes clubes. E para tentar garantir uma presença massiva de torcedores, que necessitariam pensar na viagem nos ingressos e afins, o espaçamento de tempo entre a final e as semi-finais não poderia ser de menos de um mês. De um e meio a dois acho que seria o ideal. 
A data, até para poder criar uma tradição, não poderia ser outra senão 15 de novembro, dia da Proclamação da República, o feriado mais alheio de nosso calendário (garanto que a maioria das pessoas nem sabem o porquê de não ter trabalho nem escola nesse dia)! Partida realizada a tarde, para poder parar toda a população. Exigência de uma cobertura séria em TV aberta, com pré-jogo e tudo que se tem direito. Na cidade do jogo, o torcedor-turista teria o tempo de ir ao estádio, comemorar um pouco e ainda voltar pra casa. Se o feriado então for prolongado, só alegria para o comércio local. E o feriado, sempre tão ignorado, ao menos ganharia um sentido de verdade. 
Necessitaria apenas algum recurso para evitar a elitização dessa final em jogo único. Ingressos a preços populares e um acordo entre os mandantes e a administradora do estádio-sede seriam mais do que necessários. Promoções dos clubes, como caravanas e sorteios de ingressos também seriam mais do que bem vindas. Seria uma oportunidade de valorizar a segunda maior competição nacional, sim, mas seria um absurdo fazer isso sem pensar em quem movimenta o esporte, que são as pessoas que pulam e cantam nas arquibancadas. 

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Rock in Rio no Parque Olímpico

Imagem promocional da nova Cidade do Rock, no Parque Olímpico
imagem: RockInRio.com

Como vocês já devem estar sabendo, hoje tem início mais uma edição do Rock in Rio, maior festival de música (de vários gêneros, não apenas rock) do Brasil, quiçá um dos maiores do mundo. Um evento que esse ano ganha proporções gigantescas, seja pelo seu leque de atrações, que vão muito além da música, seja pela nova Cidade do Rock, sede da festa, que agora é composta por boa parte do  Parque Olímpico da Barra, "centro nervoso" das Olimpíadas do ano passado.
Convenhamos que a mudança do local não foi lá tão radical, pois até 2015 (última edição no Brasil) o Rock in Rio já acontecia ali nas redondezas mesmo, apenas o que mudou foi a área ocupada. Se até alguns anos atrás o que havia lá era o finado Autódromo de Jacarepaguá e/ou um enorme canteiro de obras, onde não dava pra fazer quase nada, hoje existe um enorme espaço público que necessita, de alguma forma, ser ocupado. E saber que um evento deste porte está nesse lugar é algo que eu tenho que admitir que me deixa muito feliz. 
Já dei aqui meu relato sobre os Jogos de 2016, tenho recordações desse Parque, então é de se imaginar o quão chateado eu fico ao ver todas aquelas instalações usadas nas Olimpíadas "em petição de miséria", parafraseando o termo que usariam meus pais. E com uma solução aparentemente cada vez mais distante (eu tento sempre entender os porquês dessa situação, então posso falar), tenho que admitir: só pela organização do musical ter se proposto a reformar parte das arenas que utilizaria para o evento - e com o valor do aluguel, os responsáveis pelo Parque se responsabilizarem (aí que mora o problema) pelo resto -, o festival já está mais do que ganho. 


Claro que nem de longe isso diz que o imbróglio do Parque está resolvido. Muito menos o da Olimpíada. Falar do legado da Rio 2016 ainda é algo pra lá de revoltante, mas esse tipo de "iniciativa" faz brotar em nós alguma esperança. É um grande espaço, com uma ótima infraestrutura, não devemos achar que sua construção foi dinheiro jogado fora. Mas ainda pode se tornar, pois o tempo passa e sabemos o que acontece com coisas "antigas" e que não são usadas. E é essa a preocupação devemos ter! Nós, e claro, os administradores do recinto.
Deixo abaixo um esquema ilustrado da nova Cidade do Rock. Podem ver que ele conta com a Arena do Futuro e o Estádio Aquático como já desmontados, mas ambas as edificações continuam lá até hoje. Caso queira ver o espaço já finalizado, de cima - o vídeo que postei é só de chão -, acesse [edit] esteeste link. E se você que está me lendo agora vai curtir ao vivo algum dia de evento, aproveite muito essa sua oportunidade (e me diga nos comentários como estavam as filas para tantas atrações extra-musicais)! E como nunca é demais relembrar, responsabilidade sempre. 


quinta-feira, 7 de setembro de 2017

O que aconteceu com o basquete do Brasil?



Eu sei que já faz umas duas semanas que estou sumido deste espaço, e que este assunto parece estar defasado. E realmente talvez esteja, mas eu já estava programando este tema para a "data certa" tem muito tempo, mas acabou acontecendo um monte de coisa aqui no mundo real e eu tive que tirar esse tempo pra resolver um pouco da minha vida. A "data certa", no caso, seria dia 23 do mês passado, quando o ouro do basquete brasileiro no Pan de Indianápolis fez seu aniversário de 30 anos. E eu me pergunto, o que aconteceu com o esporte da bola laranja no nosso país durante esse tempo todo? 
Não é a primeira vez que venho aqui falar de basquete. Ainda esse ano, falei bastante de NBB (Novo Basquete Brasil), o campeonato brasileiro da modalidade. Nas matérias, elogiei o pioneirismo da liga em trazer os jogos para as redes sociais, na estratégia de fisgar cada vez mais novos aficionados, falei também da estrutura de algumas equipes, bastante bem equipados, dada a realidade local que conhecemos. E lendo apenas isso, a impressão que dá é que esse esporte está nadando de braçada por aqui, não? Mas a realidade não é essa. Temos sim uma liga muito bem organizada e clubes com uma administração de pôr inveja em muito time de futebol, por exemplo, mas isso é apenas uma parcela da realidade. 
Qualquer pesquisa rápida no Google (ou em qualquer outro buscador de sua preferência) nos fará lembrar de nossos times e Seleções, que foram banidos ainda ano passado, ano das Olimpíadas no Rio de Janeiro, de todas as competições internacionais, devido a dívidas e a falta de compromisso apresentada pela Confederação Brasileira de Basketball (CBB). A punição acabou sendo derrubada, mas isso apenas abriu as portas para mais um vexame do selecionado nacional, agora na Copa América, onde terminamos na triste sétima colocação, e com isso estamos fora dos Jogos Pan Americanos de Lima. No feminino, nossa última competição culminou com um quarto lugar na também Copa América, mas que não valeu nada para fins práticos. E não é por falta de talentos, pois poucas vezes na história tivemos tantos brasileiros "estrelados" jogando em alto nível, tanto no Brasil quanto também fora dele (ao menos para o masculino a afirmação é válida). E enquanto isso, nos débitos da Confederação, quanto mais prejuízo se procura, mais contas a pagar se encontram (talvez o NBB só dê certo mesmo por não ter vínculo direto com federação alguma).
Esses "aniversários redondos", como o da mega conquista do Brasil em 1987, que abre esta postagem, são ótimos para relembrarmos tempos áureos e encher o nosso peito de orgulho. Porém, são melhores ainda para fazermos um balanço, de onde estávamos e para onde fomos. A realidade não é a ideal, ainda mais quando na semana seguinte à "comemoração" desse título somos obrigados a ver, em todos os noticiários, o presidente do Comitê Olímpico do Brasil sendo escoltado pela Polícia Federal. Não preciso nem dizer que não são tempos fáceis. E se o problema é a corrupção, sinto muito, mas não vamos nos livrar dela. Se dá para melhorar algo, eu não sei, mas sinceramente temo por outros esportes, como o vôlei, que a exemplo do basquete de décadas atrás, também nada de braçada no momento atual, e que infelizmente, conhecendo a realidade de nosso país, tem tudo para tomar o mesmo rumo do jogo da bola na cesta. 

sábado, 19 de agosto de 2017

Itápolis no Bake Off Brasil!




"Title card" da participante itapolitana
no site oficial do programa
imagem: SBT.com.br
Semana passada começou no SBT a terceira temporada do programa Bake Off Brasil, mais um dos vários programas de culinária que a gente assiste televisão afora. Esse, no caso, conta com um formato que não tem nada de lá tão especial, é basicamente um MasterChef, mas só com doces. Em situações normais, eu sequer ligaria a televisão pra ver isso (e realmente não liguei), pois não é o tipo de programa que me prende. Mas essa edição conta com um diferencial, uma das participantes é daqui da minha cidade!
Admito que não conheço Dona Iaiá, a itapolitana da atração. Posso até já ter ouvido falar, mas conhecer mesmo, eu não conheço. Mas isso agora é o de menos! Vim aqui para tornar pública minha torcida para a doceira daqui da "terrinha". Acho muito legal ver gente de Itápolis aparecendo na grande mídia. A cidade é pequena, quase nunca tem destaque em nada, e a gente tem mais é que ficar muito feliz quando essas coisas acontecem!
Não sei se o programa já está todo gravado, se vai ter episódio ao vivo ou se em alguma fase o público vota (pelo horário, eu tenho quase certeza de que é tudo gravado), mas independentemente de como vai transcorrer o formato, Dona Iaiá, pode contar com toda a minha energia positiva! E vou fazer o máximo para conseguir acompanhar o reality

Você pode assistir o Bake Off Brasil através do site do programa, no portal de vídeos do SBT e pelo canal oficial do YouTube. Se preferir ainda, veja pela televisão, todo sábado, no SBT (dãr), às nove e meia da noite (eu acho que ele passa em canal da TV paga também, mas não tenho certeza)!
Abaixo, deixo anexado a estreia do programa para que quem o perdeu, assim como eu, o possa o ver agora mesmo: 

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Não é para ignorarmos o nazismo




Um assunto na última semana assombrou o mundo. Um grupo de pessoas, se auto proclamando nazistas, realizou uma passeata recheada de palavras de ordem contra gays, negros, estrangeiros, judeus e outros grupos historicamente minoritários na cidade de Charlottesville, estado da Virgínia, nos Estados Unidos. A manifestação surgiu após o anúncio da retirada de uma estátua de um líder confederado, há anos, quiçá décadas estava exposta na pequena cidade de 50 mil habitantes. 
Líderes confederados, para quem não sabe, são os comandantes das tropas dos estados do sul dos Estados Unidos durante a Guerra Civil Americana, um conflito que, entre os anos de 1861 e 1865 quase dividiu a terra do Tio Sam em duas. Um agrupamento de estados sul do país, em um dos lados do front, se denominavam Confederados, era majoritariamente agrícola e defendia a continuidade do sistema escravocrata, pois "dependia" da mão de obra barata, de preferência de graça, para realizar os trabalhos na lavoura, enquanto os estados do norte, já com a industrialização bastante avançada, defendiam ideias liberais e abolicionistas, para que assim pudesse existir uma economia interna de mercado. Como é de se supôr, os nortistas terminaram vencedores, a o trabalho escravo passou a ser constitucionalmente proibido e o país acabou "ganhando" o nome pelo qual esse grupo se apresentava na guerra: Estados Unidos
Mas como todos sabem, guerras e ideais deixam suas marcas, e o "orgulho sulista" (me permitam chamar assim) nunca desapareceu de vez. Bandeiras vermelhas com a cruz azul e estrelada de Santo André continuam hasteadas sobre as portas das casas e as estátuas dos líderes do conflito, como essa que iniciou a confusão, até hoje são vistas pelos mais diversos cantos (de uns tempos pra cá passaram a ser retiradas). Pelos "traumas" de seu passado e a perpetuação desses símbolos, não é de se causar surpresa nenhuma que muitos desses estados sejam até hoje altamente racistas (e por estarem mais próximos da fronteira, fortemente xenófobos), e que não a toa, as tais manifestações, que em seu decorrer geraram várias brigas, agressões e atropelamentos, não poderiam ter tido outro cenário senão um ex-estado confederado. 
E eu fico triste pois tudo isso que falei até agora são coisas altamente perigosas. Não apenas pelas manifestações de ódio, uma vez que seu perigo é mais do que óbvio, mas também a origem desse sentimento, que parece passar de geração em geração, como se a História justificasse esse absurdo. Muitos podem culpar a crise econômica, ou até mesmo a dos refugiados, elas duas, claro, agravam a situação, mas é impossível que se desconsidere o quão normalizada é essa intolerância. Não existe ódio repentino, ele tem de passar por esse processo de banalização, tem que ser algo comum, e tem de ser algo que nosso próximo compartilhe (e se duvida, faça o teste você mesmo: quantas amizades você já fez por "inimigos em comum"?). E num campo de desavença naturalizada, fazer a retirada dos monumentos que lembram as causas negativas desse sentimento - no caso, as estátuas, que lembram a guerra - ajuda em que? Essas pessoas, por si só, já se consideram nazistas, definição que representa limite de tudo que se imagina como "normal"; o que será delas quando se virem ainda mais distanciadas de SUA História? 
E não pense você que essa regra serve apenas para o sulista estadunidense que até hoje guarda mágoa de uma guerra que ele nunca viu. A crítica serve para o americano do norte, que lança biótipos de terroristas, serve também para o italiano, que guarda o portão de entrada da Europa e serve para você, brasileiro que não curte sírio e venezuelano entrando no nosso país. Que acha que seu primo é gay porque sua tia não o soube criar. Que não aceita que o professor do seu filho tenha a plena liberdade de discutir qualquer assunto em sala de aula. O problema do ódio, em geral, não está apenas lá, nos países ricos, é um problema que também bate à porta da "terra da diversidade". E fazendo uso de nossa falsa cordialidade, vi muita gente, em redes sociais, dizendo que devemos apenas desprezar o nazismo e ignorar esses grupos de radicais, mas eu digo que não, não devemos! 
Se existe um hora, essa é a hora de discutirmos as causas e os efeitos do nazismo. De entendermos o porquê desse pensamento estar retornando com tanta força. De sabermos identificar as sementes dele em nossa sociedade. Somos o país que proibiu, mais uma vez, a publicação do "livro -fundador" dessa doutrina, que insiste em querer resumi-la apenas em "é de direita" ou "é de esquerda", e que nunca na vida viu um judeu que não fosse o Silvio Santos ou o Luciano Huck. E ao mesmo tempo em que grupos sociais com histórico de perseguição começam a ganhar voz e espaço meio que pela primeira vez, fazemos o possível e o impossível para jogar o problema dessa mentalidade pra debaixo do tapete e tratá-lo como algo distante de nossa realidade, mas não, ele não é. E enquanto não aprendermos a reconhecer isso, mais próxima essa ideologia vai estar de aterrissar com toda a força por aqui. 

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

A Copa do Mundo destruiu a história de mais um estádio




Acabou ontem o Mundial de Atletismo da IAAF (Associação Internacional das Federações de Atletismo), em Londres. Marcado pela despedida de Usain Bolt das pistas - com o "Raio" encerrando a carreira com um inesperado bronze nos 100 metrosaquela lamentável lesão na prova do revezamento 4X100 -, a competição também me fez lembrar de outra coisa: a menos de um ano da Copa do Mundo de 2018, a que pé está o lendário Estádio Olímpico de Moscou, palco da final da competição, e que já sediou esse mesmo campeonato alguns anos atrás? Busquei, e o que eu vi não foi nada animador. 
O vídeo que escolhi para abrir este post é um referencial. Para assisti-lo, será necessária outra página (uma coisa meio chata, mas que tá ficando repetitiva a qualquer grande federação esportiva), mas caso você não a queira abrir, nem precisa, apenas a imagem de capa já serve. É um vídeo curto que mostra apenas o time-lapse da equipe de organização do "estádio-sede" do Mundial de Atletismo de 2013, realizado na Rússia. A foto que ilustra o vídeo mostra o Luzhniki (nome do estádio) antes de ser fechado para a fatídica reforma para a Copa.
Principal sede das Olimpíadas de 1980, o estádio é lembrado não apenas pelas medalhas conquistadas em suas pistas, mas também pelas cerimônias realizadas em seu interior. Divisoras de águas para o maior evento esportivo do mundo, as apresentações soviéticas trouxeram para essas festas, que até então eram bem simples, o clima da Guerra Fria. Executar um bom espetáculo era mostrar para o mundo o poderio de seu regime, de seu país. Pode-se dizer, inclusive, que foi a partir de Moscou que uma sede olímpica passou a disputar, informalmente, claro, com a próxima o título de "melhor show de todos os tempos" (todo mundo sabe que isso existe, afinal). Os cerimônias em questão foram tão marcantes que referências a eles foram vistas tanto nas apresentações de encerramento de Sochi 2014, como na abertura da Copa das Confederações deste ano, mais de três décadas após sua realização. Quando penso no Luzhniki, ouso coloca-lo lado a lado do Olímpico de Berlim e do Coliseu Memorial de Los Angeles, no hall de estádios mais importantes de toda a História Olímpica. E hoje não existe mais nada que remeta a esse passado, além, óbvio, da fachada. Foi-se toda a área que outrora foi destinado ao atletismo, junto do aspecto "redondo" que criava nas arquibancadas. E até a disposição de cores das cadeiras parece  ser outra.
Eu tenho o pleno conhecimento de que estádios olímpicos não se adequam mais aos padrões atuais de arenas futebolísticas, onde a proximidade com o campo deve ser prioridade (só o atletismo não paga suas contas, afinal). Mas aí lembramos que essa crítica é comum ao Maracanã, que era um estádio "normal", sem pista de corrida nem nada até seu fechamento em 2009, mas que em 2013 voltou tão descaracterizado quanto o campo moscovita. E o que impede que isso não vá acontecer também ao Estádio Azteca (México) para 2026 também? 
Estádios clássicos, que à época de suas construções seguiam outros modelos referenciais, hoje correm o risco de terem suas histórias jogadas no lixo devido a padrões de modernidade que sabe-se lá quem foi o responsável por decidir que são corretas, e que tudo antes disso estava errado! Apesar de que, se por um lado eu não vou reclamar, pois a modernidade também vai trazer um maior conforto, mais praticidade e uma melhor experiência ao torcedor, pelo outro, também vou ter que me indignar pelo modo com que isso é feito: você não precisa passar com um trator por cima de tudo que simbólico àquele espaço (as pistas do Luzhniki e a marquise do Maracanã, por exemplo) para torná-lo um lugar adequado aos "nossos tempos". É possível ser atual ao mesmo tempo em que se mantém histórico. A engenharia do século XXI já está desenvolvida o suficiente para isso. Claro que algumas coisas vão ter que mudar, isso é óbvio - e a tal "geral" do Mário Filho seria uma delas, aceitem isso -, mas o grosso do design ainda pode continuar. E se algum vier me falar que não, não dá, então eu vou achar que é hora da Engenharia, junto de todos os seus profissionais, botarem a mão na consciência e resetarem tudo que sabem até então, para se debruçar de novo nas pranchetas, pois nesses casos, sem a História, pra nada vai servir a modernidade.
E pra encerrar a argumentação, seguem as imagens do "new" Luzhniki Stadium (as imagens parecem ser de algum tipo de canal de notícias russo. Não tenho ideia do que eles dizem no vídeo, mas me baseando pela "mídia local" da Copa de 2014, acredito que estejam rasgando elogios à destruição, digo reconstrução do estádio):


sábado, 12 de agosto de 2017

O desenho mais esperado do ano




Quem está hoje na casa dos vinte e tantos anos com certeza vai se lembrar de um desenho da Disney que chegou a fazer bastante sucesso lá nos idos dos anos 1990 e 2000 (no Brasil). Uma família de patos que viajava pelo mundo em busca de "aventuras". Sim, DuckTales. E sim, o título do post não engana: a série animada de Tio Patinhas, Huguinho, Zezinho e Luizinho - Patrícia e Capitão Boing também - está de volta! 
Anunciado ainda ano passado, o reboot de Duck Tales me criou expectativa sem tamanho. Lembro muito pouco da versão clássica, é verdade, mas ao mesmo tempo em que as histórias me somem, ainda é impossível esquecer do quanto eu gostava desse desenho (deixar de lembrar do refrão da abertura também é muito difícil). E sabendo que estamos na era dos reboots e remakes, pra mim também não me é nenhuma surpresa o ressurgimento de mais uma produção que marcou época lá atrás pra agradar os adultos e suas nostalgias (essa galera que acha que nada que é feito hoje é bom. Eu particularmente os odeio). Mas não foi a saudade da animação antiga que me fez criar essa expectativa toda. O impacto de A Saga do Tio Patinhas (Life and Times of Scrooge McDuck, no título original) sobre mim o fez. 
Para quem não conhece, a obra em questão é como que uma biografia do Tio Patinhas - Scrooge McDuck, no seu nome em inglês -, escrita e desenhada pelo cartunista americano Don Rosa, após um estudo minucioso sobre toda a obra de Carl Barks, criador do pato mais rico do mundo. O compilado de histórias, publicadas entre 1992 e 1994 (portanto, posteriores ao DuckTales original) conta toda a história do personagem, desde a infância pobre na Escócia até a vida de quaquilionário em Patópolis. É um trabalho genial, praticamente uma aula sobre a conquista do oeste americano e um expoente da ideologia de progresso financeiro que pauta o cidadão estadunidense. Embora a parte ideológica não seja lá tão bem vista por muita gente, a parte histórica é riquíssima. Dadas todas as devidas licenças poéticas - ele não tem a obrigação de ser fiel à realidade, afinal -, a saga segue sendo uma história bastante crível, que dá ao pato uma humanidade que poucos personagens dos quadrinhos "infantis" talvez tenham. A quem se interessar, a editora Abril relançou A Saga do Tio Patinhas em 2015 no Brasil. É um livro em capa dura, muito bonito, mas que já adianto, conta com um preço meio salgado. Você ainda o deve encontrar em lojas online, bancas de revistas e livrarias. Eu recomendo, é muito bom mesmo.
Entender a mentalidade do protagonista e poder cruzar isso com o conteúdo da nova série me excita o suficiente. Os desenhos de hoje já não são apenas desenhos, como eram antigamente, feitos apenas para divertir, mas se tornaram obras de alta complexidade moral, filosófica, social, etc.. A sociedade da século da informação exigiu isso (embora as "crianças" nem sempre notem essa mudança), e não é um produto que já vem de uma carga tão enorme que vai fugir à regra. 
Caçar tesouros, para o pato pão duro, não é apenas caçar tesouros, é reviver seu passado de desbravador de América. Mas não se deixem enganar, Patinhas "McPato" continua sendo mais um endinheirado ganancioso que, para ficar ainda mais rico, usa e abusa de energia e mão de obra barata e infantil, com as tais "aventuras" sendo o pretexto para atrair seus sobrinhos. Claro que aos olhos do muquirana, também pode ser um método para educá-los, mas ninguém pode dizer que isso anula a primeira hipótese, nem tampouco que entender suas motivações não seja algo pra lá de envolvente. E é exatamente isso que estou esperando desse desenho - e tenho quase toda a certeza do mundo de que não vou me decepcionar.
A série já (re)estreou. Eu ainda não assisti, mas a Disney XD americana anunciou que hoje não exibirá mais nada além da estréia da animação. No Brasil, DuckTales ainda não tem previsão de chegada, e apenas a mérito de informação o que está passando agora nos Estados Unidos é um telefilme. A série regular estreia em 23 de setembro. 
E não havia outro modo de encerrar esse texto, senão com um alto e sonoro WOO-HOO: 


segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Rio de Janeiro. Recordações da primeira Olimpíada da minha vida:



Há exato um ano, mais ou menos por este horário horário mesmo (ou um pouco mais cedo), eu acordava no banco do ônibus, após uma noite razoavelmente bem dormida, para dar início à realização de um sonho. Eu chegava ao Rio de Janeiro, cidade que desde pequeno sempre tive o anseio de conhecer, e chegava para ver uma Olimpíada! 
A primeira memória olímpica que tenho vem dos Jogos de Atenas 2004 (se eu forçar muito a memória, parece que consigo puxar algo de Sydney 2000, mas nada além de pequenos flashes), quando faltei de um encontro de Catecismo para assistir à Cerimônia de Abertura daquele evento. Daquele dia em diante passei a me imaginar naquela festa. Uma vontade que se renovava a cada quatro anos (e a partir de 2010, a cada dois), mas que mesmo após a notícia dos Jogos no Brasil, parecia só um sonho impossível mesmo (a Copa do Mundo, outro sonho recorrente, já tinha dado errado, afinal). E motivos pra pensar isso sobravam, eu poderia estar trabalhando, talvez não tivesse dinheiro, tudo com certeza ia ser muito caro, coisa de gringo, dava supôr de tudo nos meses/anos que antecederam os anúncios oficiais para a realização do evento - quaisquer anúncios diferentes de "podem ficar tranquilos que as obras estão atrasadas, mas ficarão prontas dentro do prazo" demoraram a sair. Mas quando saíram, tudo parece que se resolveu. Os ingressos foram muito mais em conta do que qualquer brasileiro podia prever, recebi apoio de meus familiares para essa empreitada e o problema da falta de emprego eu resolvi só agora. Fiz meu cartão Visa (exigência absurda), saí vitorioso a dois sorteios de bilhetes (e depois comprei alguns outros em avulso), e quando vi estava tudo aí, pronto, pra eu poder viver ao vivo o maior evento esportivo do mundo.
E claro que não podia começar a narrativa dessa memória senão com a maravilhosa Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016 (evitem comparar com a de Londres, por favor). Não cabe a esse texto dissertar o espetáculo em questão, mas quis destacá-lo pelo sentimento que ele trouxe. Não é novidade pra ninguém que eu sou apaixonado por cerimônias olímpicas - e pan-americanas também. A expectativa que eu tinha pra essa festa de abertura era imensa, que eu chegava até a sonhar com ela durante sua semana. E foi durante essa cerimônia, na sexta feira, que minha ficha finalmente caiu. Me lembro que eu chegava a quase chorar em alguns momentos, ao me dar conta de que eu seria, ainda que muito minimamente, parte daquilo tudo. Não consegui tíquetes para a Cerimônia de Abertura, embora tenha "lutado" horrores por  eles. Minha aventura olímpica começaria no dia seguinte, viajando para Araraquara, para só depois pegar a estrada - fiquei um pouco receoso com avião nesse período - até a Cidade Maravilhosa. De Araraquara e da viagem até o Rio não tem muito o que contar, apenas que acordei na madrugada com uma vista linda, talvez a mais linda que já tive na vida, descendo uma serra. Mas não tenho ideia de onde eu estava quando a vi. Dormi de novo logo em seguida. E só antes de eu continuar, já que toquei no assunto, vale recomendar aqui o VIVA, documentário original do Olympic Channel sobre a "Opening Ceremony" da Rio 2016. Tem os bastidores de criação e realização de toda a apresentação. Se tiverem um tempinho, é bem bacana.


Publicidade no Centro de Assis
anunciando a data do Revezamento

imagem: Lucas R. F. Maester

E pra quebrar um pouco a "sequência lógica", vamos voltar pro mês de junho. Minha aventura olímpica, na verdade, começou em outra cidade daqui do interior paulista. Vinte e oito do seis de 2016, revezamento da Tocha Olímpica Rio 2016 em Assis! Pra quem não sabe - e se não sabe é porque não lê meu blog -, eu morei por quatro ano em Assis, período que levei para concluir minha graduação em História. Me formei em janeiro do ano passado, mas meu diploma só ficou pronto alguns meses depois, meados de maio/junho (achei bem rápido, sem nenhuma ironia. Parabéns, UNESP), e eu teria que ir buscar (ou poderia mandar alguém pegar pra mim, mas eu quis ir buscar). E que data escolhi para viajar até lá? Não, não foi 28/06, foram alguns dias antes, mas passei a semana toda lá, porque ia aproveitar para rever várias pessoas, e dentre elas, os condutores do Fogo Olímpico! 
O evento aconteceu numa terça-feira a tarde, mas eu cheguei bem cedo no centro da cidade para acompanhar os preparativos e para tentar aparecer na televisão. E a cidade estava morta. Avenida principal fechada, nenhum carro (muito importante dizer isso, Rui Barbosa vazia), quase nenhum cliente, todos os comerciantes possessos - conversei com alguns. Em tempos de crise não é nem um pouco legal você ficar quase um dia todo sem vender nada (em tempos sem crise isso também é chato pra caramba), logo, "clima olímpico" não tinha nenhum até dar pelo menos umas duas e tanto, três horas, que foi quando as pessoas começaram a chegar para ver o Revezamento. Houve uma apresentação circense com os narradores uniformizados mais ou menos como os voluntários estariam em agosto, na praça da Catedral. A comitiva, que mais cedo esteve em Marília, e depois iria para Londrina, atrasou em mais ou menos uma hora do horário previsto. 
Vou ser bem sincero, não consegui ver quase nada do revezamento. Mas em contrapartida, que festa foi aquela? Parecia Carnaval, com os carros dos patrocinadores distribuindo brindes (perdão criança que ficou sem a tocha inflável do Bradesco. Se você estiver lendo essa postagem, a minha satisfação em ter o brinquedo seria muito maior do que a sua, espero que entenda) e tocando música, aquela multidão de gente na rua, é algo que eu juro que não esperava. Ouso dizer que a animação do Revezamento foi até maior do que a euforia causada pelo próprios Jogos! Eu mesmo recebi uma explosão de adrenalina que não sei nem de onde veio, só lembro que ao fim daquilo tudo, quase que não me aguentava em pé de tanto correr para cima e para baixo na busca de aproveitar tudo que pudesse aproveitar (e depois disso ainda fui visitar "minha" antiga casa). Vi o Fogo, porém em apenas duas vezes. Ao fim do percurso, quando ele voltou para sua lamparina, e durante um "beijo", que é quando a chama passa da tocha de um condutor ao outro pela aproximação de suas extremidades - a de cima. Voltei a encontrar o Fogo Olímpico novamente no Rio, lá na Praça da Candelária, na ótima e democrática "Pira do Povo", uma iniciativa muito legal dos organizadores das Olimpíadas para driblar o fato d'o Maracanã - palco da Cerimônia de Abertura - não receber nenhum público na maioria dos dias do evento. O acendimento da Pira do Povo, ocorrida logo após a realização da dita Cerimônia de Abertura, você pode ver neste link
Segue aqui também o link da playlist oficial do Revezamento da Tocha Olímpica Rio 2016 no YouTube. E se eu consegui aparecer na televisão? Bom...:



Handebol Feminino


Vista para a Arena do Futuro
a partir da praça de alimentação do
Parque Olímpico
imagem: Lucas R. F. Maester

Bom, agora começa de verdade minha aventura no Rio de Janeiro (e também quando começo a separar os textos por tópicos). Cheguei na manhã de domingo, e meu primeiro evento olímpico seria na manhã de segunda, com o handebol feminino. Inicialmente eu sequer ia para essa sessão (sempre que eu disser "sessão", estou dizendo do conjunto de jogos e/ou apresentações dos quais cada ingresso me dava direito), mas resolvi investir nela de última hora. Lembro que tinha apenas ingressos para competições em Deodoro e no Engenhão - na época ainda podia chamar o estádio assim -, e nenhum ingresso para o Parque Olímpico da Barra, o principal cenário dos Jogos. E se na hora não pudesse entrar sem ingresso (o que realmente aconteceu)? Me apavorei. No fim acabei adquirindo este ingresso na fase avulsa, já sem os sorteios. Com a ginástica, aconteceu mais ou menos o mesmo.
Aprendi logo no domingo mesmo, com meus anfitriões AIRBNB (serviço que recomendo demais a quem vai viajar), a andar de metrô e trem, coisa que achei que seria um bicho de sete cabeças, mas no fim, aquilo era algo tão fácil que até mesmo um caipira como eu deu conta de aprender. Conheci a "Linha 4", exclusiva para os expectadores dessa competição, atravessei aquela rampa enorme que eu não sei se é padrão de todos os Jogos, para poder separar seu público pagante do resto da sociedade, e cheguei ao Parque. Lembro de como os voluntários já me impactaram logo de cara, com suas roupas coloridas e megafones, e que a primeira impressão que tive, ao andar um pouco lá dentro, é de que esperava um lugar maior - impressão essa que mudaria na sexta. A Arena do Futuro, casa do handebol, também era muito linda (até hoje não entendo como puderam dizer que aquilo seria desmontado pra virar escola). Não era um ginásio com lá tanta coisa de especial, mas impactava, não sei se por suas cores, ou se por suas linhas retas. Ou se pelos dois. Em quadra vi Coréia do Sul X Suécia, vitória das europeias por 31 a 28, e França X Rússia, mesma partida que, dias depois, decidiria as medalhistas de ouro (vídeo acima). Na fase de grupos, ou seja, meu jogo, deu Rússia. 25 a 26 num embate emocionante. Emoção que eu não sabia que o handebol proporcionava! Foi também meu primeiro contato com a torcida estrangeira, que me fez chegar à conclusão de que lá na Suécia o "futebol com a mão" deve ser muito popular (sentei ao lado de um "especialista" brasileiro, em certos momentos um rapaz de meia idade muito simpático, junto de toda sua família. Mas sinceramente, preferia os suecos gritando). 
Um último destaque para a hora do almoço, quando, mesmo com a super parceria da Rio 2016 com a gigante do fast food Mc Donald's, na praça de alimentação apenas o que nos disponibilizavam para almoço uma pasta nojenta que se dizia macarrão! Sem considerar outros sanduichinhos igualmente caríssimos também sem nenhuma graça, além de outras coisas que eu não cheguei a comer, mas que assim como os sanduíches, eram muito mais lanches do que refeições (santa massa). Tudo bem que nessa lógica o McDonald's também não seria uma refeição - na concepção brasileira, não mesmo -, mas a ausência de seus lanches naquele espaço repleto de potenciais consumidores é um paradoxo que eu precisava citar. E para não dizer que não marcaram presença, estavam lá sim, mas com um quiosque de sorvete - que atraía multidões. 

O vídeo acima é ilustrativo. Até o fechamento desta postagem, nenhuma das partidas das quais participei haviam sido disponibilizadas em plataformas oficiais. Caso isso seja um transtorno, peço desculpas. 

Rúgbi Feminino:

Cerimônia da Vitória do Rúgbi
Feminino no Estádio de Deodoro
imagem: Lucas R. F. Maester

Saber andar de trem e metrô não necessariamente significa saber calcular tempos de viagem. Durante toda minha estadia na Cidade Maravilhosa me atrasei aos eventos por esquecer que o Rio não é Itápolis, logo, lá as coisas não ficam tão perto umas das outras. A final do rúgbi feminino foi o primeiro compromisso do qual não consegui cumprir horário. Foi também o primeiro compromisso a me mostrar a "realidade" da Rio 2016. 
Passei boa parte do dia na Barra da Tijuca. Zona Sul, parque Olímpico da Globo, brasileiro pra todo lado, mas logo isso ia mudar. Era hora de atravessar a cidade para conhecer a Zona Norte, Parque Olímpico de Deodoro, na Vila Militar. O jogo me despertava muito interesse, afinal, eu assistiria todas as disputas de medalhas - e mais algumas partidas - do Rugby Sevens feminino. Nunca na história das Olimpíadas houvera uma competição feminina de rúgbi. Depois de já ter aproveitado um bom tanto do primeiro parque, era hora de pegar o BRT. E nesse momento o "sonho olímpico" começava a desmoronar. 
Talvez meu primeiro encontro com a vida real tenha se dado dentro do próprio "busão". Deodoro concentrava a maioria dos esportes da preferência gringa, esportes dos quais o brasileiro não está nem aí. Não a toa, o transporte que peguei estava repleto de estrangeiros, e também de pessoas voltando para casa (esse negócio de exclusividade era só pra metrô novo). E nessa miscelânea de realidades, eu era um dos que sabia falar inglês. Pode não parecer, mas ter um conhecimento básico da língua universal é algo que te faz "diferente" de muita gente. E podem acreditar, não necessariamente isso é bom. Tá, é bom sim, mas também é muito estranho, pois por mais que você fique feliz de ajudar o cidadão a falar com o turista australiano, você também sente que as coisas não precisavam ser daquele jeito. Estou querendo dizer que todo mundo deveria ser bilíngue? Talvez, mas essa é uma discussão que vai ficar pra outra hora, segue o texto, até a já dita Vila Militar (segundo a moça da Biblioteca Nacional, o lugar mais seguro do Rio de Janeiro). 
O nome sugestivo não vem a toa, a área de competições ficava num bairro de quartéis! Quartéis de todas as Armas e armas nas mãos de dezenas, centenas de militares! Só vi tantos militares assim na praia de Copacabana. Não me lembro desse nível de segurança nas outras zonas de disputa (talvez as palavras chave sejam "bairro pobre" e "ambiente aberto"). Você desembarcava numa estação, andava um tanto e vinha parar numa esquina. Ali começava o "território olímpico", onde você andava muitos metros em meio a esse cenário que já descrevi (onde, por curiosidade, esqueceram de tapar as logomarcas da Oi nos orelhões), até chegar às arenas de competição. Era bonito, não vou dizer que não era, mas também era no mínimo, como vou dizer, fora do convencional? 
Mas ainda mais fora do convencional era aquele segundo Parque Olímpico. Esqueçam tudo que vocês imaginam de uma Olimpíada. Nesse parque haviam matagais disfarçados de mata nativa, um rio poluído e mal cheiroso, e uma escadaria enorme e barulhenta por onde você passava por cima de algum lugar, acho que a estação de trem que parece um castelinho. Ali não havia glamour nenhum (algumas fotos você pode ver aqui), mas em compensação, talvez foi ali que eu encontrei as melhores pessoas - para amizades de 15 minutos, pelo menos. Mas isso fica para outro tópico. Por enquanto, atemo-nos à destruição do que tínhamos por "olímpico", agora no estádio. Era uma estrutura simples, de madeira, que pode ser usada no maior evento esportivo do mundo, mas não pode ser usada no Campeonato Paulista, mas bastante aconchegante. Ou seria, não fosse a desorganização do lado de fora. Meu ingresso não tinha lugar marcado, mas tinha a categoria da arquibancada, "B", que tinha um preço mais em conta. Porém, me disseram que aquele lado do estádio estava lotado, então me colocaram na tribuna "A", a mais cara. Vantagem? Seria, se não tivessem mandado todo mundo pra ela. O lado do estádio do qual eu tinha direito estava cheio de lugares vazios, enquanto a arquibancada onde eu estava não tinha lugar pra mais ninguém! Se eu não estivesse sozinho, acho que estaria até agora procurando um lugar para sentar com a outra pessoa. Mas voltei para a sessão "B"? Não, poque aqui é "A", meu amor! "A", de "apertado". 
E se for pra encerrar as desventuras desse dia, vocês se lembram, assistindo na TV ou não, de uns copos amarelos da Skol que todo mundo tinha aos montes? Pois então, 13 reais o copo, 1 real a cerveja. E eu devia ter aproveitado, pois nos outros dias não vendiam mais os copos separados (Skol é muito ruim, misericórdia). 
Bom, por fim, sei que já cheguei ao estádio irritado, e, pra não me estender mais neste tópico, vi a decisão entre Austrália e Nova Zelândia, vencida pela Austrália, 24 a 17 - por isso o choro das neozelandezas durante o haka do vídeo em destaque (eu estava do outro lado do estádio, apoiado na grade, conversando com um americano sobre a situação do rúgbi em seu país, então não pude ver de perto. Mas vi pelo telão). Essa final você pode assistir por aqui. Testemunhei ainda Canadá X Grã Bretanha (33-10) pela medalha de bronze, e ainda França X Estados Unidos (5-19) e Espanha X Fiji (21-0), esse último, chegando na metade, devido ao já dito atraso por mau cálculo. Mal cálculo que, por pior dos males, pode ter sido bom pra me livrar de desilusões ainda maiores. 
Ah, e vale lembrar que essa sessão também foi marcado por um pedido de casamento! Cliquem no link em verde para relembrar (Rio 2016, os Jogos da diversidade). Só que eu não vi, ou por estar do outro lado do estádio, ou por já ter ido embora. 

Hóquei Sobre Grama Feminino e Masculino


Vista externa do campo 2 do
Centro Olímpico de Hóquei
imagem: Lucas R. F. Maester

Talvez o hóquei tenha sido o esporte que mais me agradou. Acreditem, o hóquei é lindo! E era disparado o esporte que mais atiçava a curiosidade das pessoas. 
Depois daquela segunda agitada, tive a terça livre, e a quarta também me estava vaga, até pelo menos às cinco horas da tarde, horário da minha rodada dupla de hóquei sobre a grama. Sim, sobre a grama. Sim, esse esporte existe, e é tradicionalíssimo do programa olímpico, um dos mais antigos ainda em atividade. E também um dos que mais ocupam datas no torneio, com um calendário que toma quase todos os dias da Olimpíada. Não é um esporte que move multidões, ou que faz girar cifras milionárias, mas é um jogo que tem lá sua importância. E o Brasil não tem tradição nenhuma nisso (pra variar).
Seria a minha primeira oportunidade - e acabou sendo uma das únicas também - de ver um jogo com o Brasil em campo. E talvez isso tenha sido a única coisa que me motivou a atravessar de novo a cidade e ir a Deodoro. Sim, eu tinha um pouco de preconceito com o hóquei, pois pela televisão - ou no meu caso, pela internet - ele é muito chato. Mas eu estava disposto a conhecer, afinal, não sou de fazer o cara da cabeça fechada, me dei à chance de conhecer de tudo (contanto que o ingresso fosse barato e a concorrência no sorteio fosse pouca), logo, não seria o esporte em si que me desmotivaria. Mas a chuva sim estava desmotivando!
Sim, amanheceu com um tempo de chuva tenebroso. Acordei preparado para subir até o Cristo, mas não fui após terem me avisado que nem adiantaria ir até lá, pois as nuvens tapariam minha visão da cidade. Tive que me desdobrar e inventar um roteiro alternativo. Foi o dia em que mais conheci o carioca. Fui conhecer todas as igrejas clássicas do Centro, a Antiga Sé e as que as circundam. Destaque para o Igreja de São José, ao lado da ALERJ. Uma igreja antiga, escura, bem pequeninha, mas onde conheci uma das pessoas mais fantásticas dessa minha viagem, um senhorzinho que me ensinou desde onde comer até o como entrar em favelas. Quando voltar à capital fluminense, esse vai ser o primeira lugar que vou querer revisitar (e só agora que eu descobri que o Paço Imperial era lá do lado também). Passeei por toda a nova Zona Portuária e conheci trechos do Centro muito interessantes, com ruas estreitas e um comércio frenético, além de claro, ter circulado todo o Maracanã, sem poder entrar dentro dele. Acho que foi esse o dia em que eu realmente conheci o Rio de Janeiro! E claro, comprei um guarda chuva de cabo retrátil, para não ser barrado na porta do Complexo Esportivo no fim da tarde, caso eu resolvesse mesmo ir (até então eu ainda acreditava que eles realmente barravam as pessoas). E no fim resolvi ir mesmo! 
Já na saída da estação de trem, vale ressaltar, conheci uma senhora que era ali do bairro mesmo. Estava com suas duas sobrinhas, ou duas netas, esse detalhe se perdeu na minha memória, e que ao descobrir de onde eu era, me revelou que vinha até Ibitinga comprar bordados (para quem não sabe, Ibitinga é a cidade vizinha de Itápolis. É  nacionalmente conhecida pela produção do bordado). Pequenas besteirinhas da vida que achamos muito legais de se contar. E ela também estava indo ver o jogo do Brasil. A acompanhei, junto com as netas - ou sobrinhas - até a escadaria que já citei lá atrás, e ali as perdi para sempre. Mas a vida tem dessas coisas, segui até o Centro Olímpico de Hóquei, nome chiquérrimo pra algo que depois não ia servir para nada. A instalação também era pra lá de vistosa, talvez por isso despertasse tanta curiosidade. O Campo 1, onde jogavam as grandes seleções, tinha um pequeno "ponto cego", de onde se podia ver, mas sem conseguir ver nada, o jogo do lado de fora. Era cantinho onde você no máximo via um/a ou outro/a jogador/a passando com o taco, mas não podia distinguir muita coisa do jogo. Mas era lá onde se juntavam muleques aos montes para tentar ver as partidas. Se eles estavam ali, era porque tinham ingressos para outros esportes, mas de uma coisa gostei muito, e gostaria de destacar aqui também: o Parque de Deodoro abraçou demais a população local. A maioria das pessoas com que que eu conversava nesse ambiente, ou era de outro país, quase sempre Austrália, ou era daquele bairro ou região mesmo. Então, ao menos pelo pouco que eu vi, adverto que vocês podem falar mal do evento o quanto quiserem, mas vocês nunca vão poder dizer é que ele não foi "tomado" pela população, isso desde os mais pobres, até os mais ricos.
Mas os jogos que eu veria não seriam no Campo 1, seriam no Campo 2, escondidinho lá atrás. Bem mais modesto, mas também muito simpático. Cheguei na metade do primeiro jogo, Estados Unidos 6 X 1 Japão, pelo torneio feminino. Usei a bandeira do Brasil para secar o assento que escolhi (a maioria dos meus ingressos não tinham cadeira numerada) e me acomodei. As pessoas se divertiam com o jogo e tentavam entendê-lo, usando as regras do futebol, pois pro brasileiro tudo é futebol. O hóquei é futebol com taco, o handebol é futebol com a mão, o polo aquático é futebol na água, polo "normal" é futebol com cavalo e o atletismo é futebol sem bola. E essa lógica serve pra QUALQUER esporte. Mas nesse primeiro jogo a torcida ainda estava quieta, apenas fazendo a análise técnica. A empolgação veio ao fim dele, com o Brasil em campo enfrentando a Nova Zelândia! A seleção nacional não vinha de uma sequência muito legal, já havia tomado de sete da Espanha e de doze da Bélgica nas rodadas (observação: a média dos placares de hóquei é mais ou menos equivalentes aos do futebol, futebol mesmo). Mas não havia razões para não acreditar. Em meio aos gritos de "Wesley Safadão" para o craque naturalizado do nosso time e muitos "elogios" para a mãe do juiz, o jogo terminou em nove a zero para os visitantes. E ao fim da partida a torcida perdia a paciência exatamente do mesmo jeito que faz no futebol! Com a diferença de que no futebol você tem motivo pra querer exigir alguma coisa, no hóquei sobre a grama, que os caras nem profissionais devem ser, não. 
O Brasil terminou em último no seu grupo sem nenhum ponto conquistado e um saldo negativo de 45 gols. O time feminino sequer se classificou para os Jogos. Essa foi a única modalidade em que o país não ganhou o direito da vaga por ser o país sede; a Federação Internacional argumentou que a situação do esporte por aqui era crítica. Passada a Rio 2016, o hóquei sobre a grama segue sem expectativas de crescimento em terras tupiniquins. Só nos resta lamentar. 

Os vídeos acima e abaixo são ilustrativos. Até o fechamento desa postagem, nenhuma das partidas das quais participei haviam sido disponibilizadas em plataformas oficiais. Caso isso seja um transtorno, peço desculpas. 



Rúgbi Masculino:


Estádio de Deodoro
imagem: Lucas R. F. Maester

Vocês por algum acaso já sabiam que eu era atleta de rúgbi na época da faculdade? Joguei por uns seis meses e depois não aguentei mais, o que não diminui em nada meus méritos esportivos. Estou dizendo isso porque talvez tenha sido esse meu principal incentivo para investir em dois ingressos para o jogo da bola oval (ou foi o sorteio, não me lembro). Hoje acho que poderia ter sido tudo tão diferente...
Não reclamo do rugby, totalmente pelo contrário, é um esporte do qual tenho muito carinho. Muito menos da minha primeira sessão, lá na segunda feira (embora o texto lá em cima faça parecer o contrário, acho que sofri muito mais pelo "choque", do que pelas partidas em si. Mas o rúgbi feminino, no geral, me foi maravilhoso). O problema mesmo foi esse dia, disparadamente meu dia mais sem graça no Rio de Janeiro. 
Era uma quinta feira, não sei ao certo o que fiz de manhã, mas minha sessão era a tarde. Ao contrário do dia anterior, aquele estava lindo, nos padrões cariocas: Sol, calor, não havia do que reclamar. Caso você estivesse na praia, o que não era o meu caso. 
Gente, eu vou ser bem sincero, eu não tenho praticamente nada pra contar desse dia. Se no primeiro dia dividi a arquibancada com jogadoras do esporte - mais ou menos como eu, só que um pouco mais entendidas (e não eram de Seleção nenhuma, fiquem calmos) -, nesse dia era eu e o Sol. Se lá no Parque da Barra eu tava reclamando do "macarrão", é porque ainda não conhecia o "hamburguer" da Rio 2016 (você deveria estar envergonhada, dona Sadia). Esse dia foi tão chato que eu sequer encontrei alguém legal, pra poder contar histórias pra vocês! Bom, até encontrei, mas isso só depois de já ter ido embora, bem longe do Estádio de Deodoro - mas o desfecho dessa história não foi tão legal. 
E ah, os jogos? Nem eles valeram tanto a pena. Pesquisem aí pela sessão "RU011", as partidas que eu vi foram aquelas lá.
E pensar que quase troquei essa sessão por uma partida de basquete da Seleção Brasileira (Brasil X Croácia, se não me lembro errado). Um primo meu tinha o ingresso, não ia mais e queria me vender. Não comprei por achar que a segurança do evento seria séria. Ai, se arrependimento matasse. 
Mas bom, ao menos, o dia não foi de todo perdido, pois saindo dessa sessão, segui caminho para o Cristo Redentor (visita obrigatória. Se não fosse, era a mesma coisa de nem ter saído de casa). E como ainda não tinha noção nenhuma de distâncias, achei que conseguiria chegar nele de dia. Mas querem saber, pra esse caso, ainda bem que eu não tenho noção nenhuma de distância. Jamais vou esquecer daquela visão do Corcovado durante a noite - assim como também o frio não sairá na minha memória. 

O vídeo acima é ilustrativo. Até o fechamento desta postagem, nenhuma das partidas das quais participei haviam sido disponibilizadas em plataformas oficiais. Caso isso seja um transtorno, peço desculpas. 

Atletismo - Dia 01:


Estádio Olímpico do Rio de Janeiro,
Estádio Nilton Santos, Engenhão.
Na época acho que podia chamar
por qualquer um desses nomes
imagem: Lucas R. F. Maester

Uma das coisas interessantes que você tem para saber sobre mim é que sou apaixonado por dois tipos de construção: os estádios e as igrejas. Logo, nem preciso dizer o quão especial seria pra mim essa sessão, né? 
Eu já havia conhecido várias igrejas e outros prédios históricos no Rio de Janeiro. E embora essas sejam coisas que quanto mais você conhece, mais você quer conhecer - permitam-me parafrasear o slogan de uma série de comerciais do Ministério do Turismo, por favor -, era hora de visitar um representante da minha próxima paixão arquitetônica. O segundo maior estádio da cidade, o Nilton Santos (que até então todo mundo conhecia como "Engenhão", mas que durante os jogos era oficialmente "Estádio Olímpico")! 
Até então, o único estádio "grande" que eu conhecia era a Arena da Fonte Luminosa, o campo da Ferroviária, em Araraquara. Uma ótima arena, mas ainda não era um dos grandes palcos do futebol nacional. Oficialmente, esse seria o estádio por onde iria de fato "debutar" no turismo esportivo (foi também foi o único, pois não conheci nenhum outro depois dele). Acordei cedo e peguei o metrô, do metrô peguei o trem, e com toda a empolgação que vocês já devem estar imaginando, cheguei à principal instalação da Rio 2016, para a estreia do Atletismo nos Jogos. E logo de cara, a primeira impressão que tive do estádio foi o chão. Sim, eu sei que parece besteira, mas nunca, em toda a minha vida, eu vi algo tão reto como aquela pista! É como se não houvesse uma ruga, uma falha, nada além de um plano perfeito em dois tons de azul! Notei também a falta de decoração no geralzão do espaço, problema crônico de grande parte das arenas da Olimpíada. No outro dia me disseram que é porque as placas, encomendadas de um país do leste europeu, não haviam ficado prontas a tempo. Não verifiquei a fonte, mas acho que é verdade, pois conforme iam passando os jogos, na TV eu via que o envelopamento dos lugares de competição iam ficando melhores. Na Paralimpíada então, era como se tudo estivesse perfeito, principalmente no dito Nilton Santos, com as placas azuis ostentando o slogan - "Um Novo Mundo" - e o trecho escrito - "Rio 2016" - do logotipo do megaevento. 
Andando pelo estádio também notei que qualquer um tinha acesso livre a qualquer sessão do campo, menos, claro, a mais cara (que nesse caso, dependendo da programação do dia, poderia ser cara de verdade, pois dava de frente à pista onde aconteciam as chegadas das corridas, além da nobilíssima prova de 100m). Logo, a categoria de arquibancada que você escolhia era praticamente simbólica. E essa regra (ou falta dela) servia para maioria das arenas que visitei - caso, claro, você não ligasse de ficar em pé. Mas isso, se bobear, eu devo ter descoberto só no segundo dia, pois neste primeiro eu estava muito ocupado , na arquibancada colocada como provisória no Engenhão, tirando fotos de mim próprio - as ditas "selfies" - com o campo e a pista ao fundo. 
Esportivamente, achei muito gozado que tudo no atletismo acontece ao mesmo tempo, e você meio que não tem pra onde olhar. Ao mesmo tempo em que um grupo de atletas corre em uma prova de velocidade, outro grupo é avaliado pelos arremessos de discos ou pesos (ê mágica essa que a televisão faz) e lá no canto, meio escondida, ainda existe uma atleta saltando a distância nas caixas de areia. Não que eu imaginasse algo diferente, mas vale a pena ressaltar que esse modelo, pra quem assiste ao vivo, é bastante divertido. E principalmente, o que não posso deixar de contar: presenciei um recorde mundial - e obviamente, olímpico. Outro orgulho dessa minha viagem. Prova de 10.000 (dez mil) metros feminina. Uma prova gigantesca! Pra vocês terem uma noção, a prova, mesmo com o melhor tempo do mundo, dura coisa de meia hora. O locutor do estádio e a transmissão nos telões orientava as pessoas sobre o número de voltas restantes. Enquanto isso, a gente se concentrava em outras provas, porém nas últimas voltas, as arquibancadas todas gritavam. A vencedora foi decidida nos últimos metros, e a representando a Etiópia ficou com o ouro.  WR em todos os telões, e o friso na hora da premiação, já ao fim da manhã, em francês, inglês e português. O recorde segue nas mãos da etíope. 
E após a Olimpíada, o estádio, do qual eu tanto falei, foi remodelado para ter a cara e as cores do Botafogo. E na minha humilde opinião, ficou muito mais bonito. 

Destaquei no vídeo acima o ponto alto dessa sessão, prova que você pode assistir na íntegra aqui. Quanto às demais provas, não vou colocar vídeo por vídeo de tudo que aconteceu naquela manhã de sexta porque acho que muita coisa eu mesmo perderia, porém, deixo para vocês um especial com tudo (na verdade, quase tudo) que rolou nas competições de Atletismo da Rio 2016 ao clique deste link

Ginástica de Trampolim Feminino


Cerimônia de podium vista do lugar
mais barato e pior iluminado da
(então) Arena Olímpica do Rio
imagem: Lucas R. F. Maester

Ao menos uma coisa vou poder falar: assisti a uma final olímpica da ginástica. Não especifiquei qual, mas assisti. Não, não estou querendo diminuir a ginástica de trampolim, totalmente pelo contrário. Entretanto uma coisa temos que admitir: ver ginástica numa Olimpíada é o sonho de muita gente. Mas não essa  ginástica aí! Mal sabem essas pessoas o que perdem.
A ginástica de trampolim foi meu último ingresso. Eu o comprei, salvo engano, coisa uma semana antes da minha viagem. Queria muito mais um dia no Parque Olímpico. A Globo já fazia suas transmissões direto de lá, aquele cenário todo me enxia os olhos, não era aceitável que eu fosse ter apenas um dia naquele lugar maravilhoso. E ainda por cima, um dia em que eu nem teria como aproveitar tudo - vocês devem se lembrar, eu saí do handball, na segunda, e já tinha de ir pro rúgbi no meio da tarde. Então, já logo me programei para ter um dia só para isso, e a escolhida foi a sexta-feira, data em que eu tava com a agenda quase vazia - apenas o atletismo de manhã -, então poderia ficar no Parque até a noite, caso o quisesse. E essa deve ter sido uma das escolhas mais acertadas que fiz na vida. Mas nessa parte eu chego depois. Meu único "problema" agora seria escolher entre a dita ginástica e a esgrima. E essa foi outra escolha acertada.
As provas de trampolim aconteceram na Arena Olímpica do Rio, um dos bons legados do Pan de 2007 (aliás, a Rio 2007 tem vários legados interessantes. A Rio 2016 bem que poderia se espelhar). Por questões de naming rights, hoje ela é chamada de Jeunesse Arena, e até pouco tempo atrás também se chamou HSBC Arena. Uma instalação muito boa e muito bonita, mas que fica praticamente separada do resto do complexo - mais longe que ela, só o Maria Lenk. E foi com esse ginásio que eu tive a real dimensão do tamanho do Parque da Barra. Você tinha que andar demaaais para chegar do portão até ele. E dele para o resto dos lugares, mais ainda - mas em compensação, você tinha uma ótima vista para o velódromo -!
Meu ingresso, pra variar, era o mais barato, então além de ter de andar até a longínqua arena, ainda tinha de escalá-la inteira, até o último andar, numa arquibancada escura e mal cheirosa (o "mal cheirosa" está usado para gerar intensidade, não necessariamente reflete um fato. As demais características citadas são verdadeiras). Mas valia a pena, era mais uma final pro meu currículo (na verdade era a sessão inteira, as provas dessa modalidade acontecem todas em um dia só). De um esporte desconhecido do público brasileiro, sim, mas um esporte que eu achei muito lindo. Já havia visto pela internet as disputas de Londres 2012, sabia mais ou menos o que ia encontrar, mas ainda achava que seria algo muito próximo do que é a arte de circo, mas não, estava bem longe disso. Embora eu não seja um especialista, nem da ginástica, nem do picadeiro, posso dizer que existe uma diferença básica: ginastas não estão ali para te entreter. Você via uma técnica e um rigor que eram coisas invejáveis. Não que no circo não haja isso também, mas a impressão que me deu é a de que o circo permite aos seus artistas muita liberdade de movimento, algo para qual esse esporte não parece estar lá muito aberto. Mas ainda assim, um esporte que, assim como o Parque, era de encher os olhos de qualquer um (pra ficar melhor, só falta mesmo abolir aquelas meias horrorosa que as/os atletas usam). Resultado final, ouro para o Canadá, prata para a Grã Bretanha e Bronze para a China. Eu estava torcendo para uma portuguesa, já que não tinha brasileiras, mas ela ficou lá atrás na classificação final. E a final da Ginástica de Trampolim feminina você pode assistir no vídeo acima, via YouTube oficial do COI. 
E por fim, deixando a arena de competição, era hora de aproveitar o "coração dos Jogos", como gostava de chamar a mídia. E acho que aproveitei o máximo que pude. Peguei filas gigantescas para absolutamente tudo, conheci a Casa dos Mascotes Bradesco, vi de perto todas as arenas, consegui pins exclusivos e ainda presenciei a vida noturna do Parque (o que me deixou muito entristecido, diga-se de passagem). É um lugar com um grande potencial, acho uma pena a Prefeitura do Rio não ter, hoje, o que fazer com ele. Ou se tem, não saber como atrair público para isso. 
Bom, mas só sei que ao fim do dia estava tão cansado que fui obrigado até a abortar o plano de aparecer ao fundo do Jornal da Record - já havia aparecido no encerramento do Globo Esporte na segunda, afinal (infelizmente, o vídeo não estava mais disponível) -. Não adiantava querer forçar mais, havia tido meu momento, era hora hora de apenas tirar as últimas fotozinhas e voltar pra casa. 

Atletismo - Dia 02:


Chegando às arquibancadas
do Estádio Olímpico

(já ao fim da sessão)
imagem: Lucas R. F. Maester


Medalha de ouro nos 100 e 200 metros, campeão ainda no revezamento 4x100 pelo time da Jamaica, seria impossível falar do meu penúltimo dia de viagem sem dar o devido destaque a Usain Bolt, atleta que poderei contar aos meus netos - caso eles algum dia existam - que tive a honra de poder ter visto ao vivo. Vencedor de oito ouros "e meio" (a medalha que perdeu por doping de um companheiro de prova em 2008 não diminui em nada o mérito do velocista) em Jogos Olímpicos e "provavelmente" encerrando sua carreira nesse tipo de competição, o corredor jamaicano sem dúvidas é, e tem tudo pra continuar sendo por muito tempo, um dos maiores velocistas da História! E claro, sua presença no Rio seria motivo de grande alvoroço naquela manhã de sábado. 
Vale lembrar que essa era outra sessão que eu sequer ia. Havia sido sorteado para a sessão do dia anterior, mas com o benefício da meia entrada. Porém, nesse meio de caminho, minha carteirinha de estudante havia vencido (eu havia acabado a faculdade, afinal, e não tinha voltado a estudar). Voltara a preocupação de dar com a cara na porta. Até então, eu nem sabia que o Raio correria nesse dia - na verdade, eu só descobri isso na véspera do evento -, só o que eu queria conhecer o Engenhão mesmo. Então fui lá eu gastar ainda mais dinheiro, pra no final não me pedirem a carteirinha de estudante em um dia sequer. Mas não tenho dúvidas de que foi um bom investimento.
E logo na estação de trem você já via que esse dia seria diferente do anterior. Muita, mas muita gente mesmo tinha saído de casa para comparecer ao estádio do Botafogo. Uma fila quilométrica que parecia não andar, com pessoas das mais diversas nacionalidades interagindo entre si - dentre elas, vários jamaicanos. Eu conversava com mineiro, se não me engano, um grupo de chilenos e os conterrâneos de Bolt. Mas minha preocupação mesmo era a de não conseguir entrar a tempo no estádio. Por sorte, como em todo bom espetáculo, o melhor foi deixado para o fim. 
Já lá dentro, passeei bastante pelo estádio. Dessa vez não era eu que tinha me calculado errado, cheguei cedo até demais, mas não esperava aquela desorganização com a fila. Pelo menos metade da sessão devo ter perdido. Vi, claro, várias provas, mas meu foco mesmo era um só. E o barulho da torcida me avisava a hora de voltar pra arquibancada. Não havia dúvidas de que o estádio estava lotado, principalmente, pelo frenesi da estreia de Usain Bolt na Rio 2016 (e o preço baixo do bilhete só atraía ainda mais as pessoas). Tudo bem que a maioria das pessoas ali eram todas "modinha" - talvez até eu mesmo também fosse -, mas nada disso importava, todo mundo ali queria ver a História acontecer. Sim, pois de algo tenham a certeza, Michael Phelps e Usain Bolt farão com que as imagens da nossa Olimpíada ainda sejam reprisadas por ciclos olímpicos e ciclos olímpicos a fim. Preparados os celulares - porque isso é século XXI -, era esperar o som da buzina. Silêncio total no Nilton Santos. Pouco mais de dez segundos depois, a história estava feita. O melhor de todos os tempos se classificava para a semifinal e o público gritava e fazia festa, como se vencedor fosse até atleta um brasileiro. Parece muito para tão pouca coisa, tão pouco tempo? Mas acreditem, não, não é. 
Após isso, mais uma última prova, e hora de deixar o estádio. A última arena de competição que eu visitaria. Quis ficar um pouco mais no estádio, não fiz questão de ir embora correndo, era um momento que queria aproveitar. Com um tanto de tristeza, mas queria aproveitar. Olhava as arquibancadas já vazias, os atletas na pista de aquecimento, lá fora, e o pessoal da organização arrumando as coisas, a fim de deixar tudo pronto para a noite. O coração estava como que partido, ainda tinha mais um dia e meio de Rio de Janeiro, mas a Olimpíada, pra mim, tinha acabado (ou ao menos era o que eu achava). Era o momento de voltar pra casa, ou escolher algum lugar da cidade para conhecer - o Museu Cidade Olímpica era ali do lado, mas estava fechado, teria de escolher outro lugar. Independentemente do que eu fosse fazer a partir daí, o que eu já sabia era que seria apenas como um "turista normal". Mas nisso eu era muito bom, então nunca foi um problema. 

A eliminatória dos 100 metros rasos de Usain Bolt que tive o privilégio de assistir foi essa. No outro tópico sobre o Atletismo tem um link para você talvez conseguir ver as demais provas de que participei. 

Maratona Feminina:



Domingo de manhã, Dia dos Pais, hora de ir pra Missa, agradecer pela viagem, pedir pela volta e conhecer um pouco mais do Centro (fui à Missa tanto quando cheguei, um domingo, como no dia de ir embora, o outro domingo. Ambas na Catedral, onde fiquei bastante abismado com várias coisas, tipo com a falta de gente, por exemplo). Pra mim não havia mais Olimpíada, meu último ingresso foi aquele do Atletismo, no sábado de manhã, e o domingo eu tinha inteiro só para "turistar" normalmente. Mas ah, eu tinha me esquecido da mais democrática de todas as classes esportivas, a dos esportes de rua!
Não tinha nem me dado conta, mas domingo de manhã era dia da Maratona. A feminina naquele 14 de agosto e a masculina no último dia do evento, quando eu não estaria mais lá. Não vou saber informar ao certo o horário, mas andando pelo Centro do Rio estava notando, e achando estanhas as várias barreiras feitas de grade circulando as ruas, e que ninguém sabia pra que serviam. Dei sorte, foi apenas encostar em um daqueles parapeitos que as corredoras apareceram. E com elas os carros cheios de câmeras, motos batedoras e toda uma estrutura que não vemos na TV. Como eu estava totalmente alheio à realidade, não identifiquei ao certo de que país era a moça, mas quase na minha frente uma atleta ameaçou de passar mal. Foi socorrida por um grupo e logo voltou a correr de novo, sob meus gritos de apoio, e os de todos que estavam junto comigo, encostados na grade. 
Foi rápido, coisa poucos minutos, e tudo aquilo acabou. A Maratona continuou seu curso, abriram a rua rapidinho e eu segui meu caminho até a excêntrica igreja-mãe de São Sebastião do Rio de Janeiro. Acabada a Missa, liguei pra minha casa desejando um feliz Dia dos Pais para meu pai. A ligação foi feita de dentro da Catedral, pois aquela região da Lapa me pareceu tensa demais pra me dar ao luxo ficar marcando bobeira. 
E voltando à "corrida pedestre", como diria a minha mãe, eu até cheguei a gravar um vídeo desse mensionado trecho, mas não o vou disponibilizar para vocês por não possuir conhecimentos mais detalhados das políticas de direitos autorais para eventos olímpicos (com a maioria das disputas que descrevi anteriormente, a mesma coisa). Mas caso você queira ver a íntegra da Maratona Feminina da Rio 2016, clique neste link. Eu não consegui me encontrar na filmagem, caso você consiga, me diga nos comentários o momento em que eu apareço. Obrigado.
imagem: Wikipédia
Claro que minha estadia no Rio não se resumiu apenas às Olimpíadas. E eu não poderia deixar de reservar um espacinho neste texto para falar do carioca, essas pessoas que só tornaram minha viagem ainda mais maravilhosa. 
Existe algo que eu gostaria muito de citar para falar do povo do Rio de Janeiro: Dom Casmurro. Sim, a obra magna da literatura brasileira, escrita por Machado de Assis há mais de um século. Comecei a ler esse livro umas mil vezes e nunca o terminei, porém, de tanto começa-lo e recomeça-lo, seus primeiros capítulos posso dizer que já sei quase de cor, com destaque para o primeiro - o de apresentação do título do livro -, onde o protagonista sobe em um trem e um quase estranho, sem nenhum motivo aparente, começa a contar, e cantar, um pouco de suas poesias para o protagonista Bentinho. Existe maneira melhor de representar o carioca (ou até brasileiro, em geral)? Pelo menos para mim, era comum encontrar as pessoas no transporte, na rua, na arenas de competição e nas igrejas, e do nada começar a conversar como se fossemos velhos conhecidos. Pra quem, como eu, viaja sozinho, ter esse tipo de recepção, é algo muito mais do que valioso. 
Claro que das várias pessoas que encontrei nessa jornada, muitos não eram cariocas. Alguns sequer eram brasileiros. E obviamente que também nem todos eram bons. Encontrei gente tentando - e conseguindo - me passar pra trás ao ver que eu era turista, encontrei gente que também não era a fim de papo, mas as boas "amizades de um dia" que consegui por lá, valeram mais do que qualquer outro imprevisto. 
Fico muito triste, hoje, de ver a situação em que se encontra a cidade e o estado do Rio de Janeiro. Não sei se dá para dizer que a Olimpíada é a culpada por aquilo, mas independentemente de sim ou não - eu acho que não -, eu não posso deixar de deixar aqui, publicamente, minha torcida por dias melhores (mesmo sabendo que essa torcida não vai adiantar nada), pois quela gente não merece passar pelo que está passando. Aliás, gente nenhuma merece. 
Quero dedicar este espaço para agradecer a todas as pessoas que, de uma forma ou de outra, não permitiram que eu me "sentisse sozinho", o que era meu maior medo, na cidade grande (apenas me senti assim no sábado a noite, ou seja, se formos fazer um balanço geral, isso não dá quase nada). Não acredito muito que alguma delas vai estar lendo este texto, muito menos que vá "se ver" nele, mas seja como for, se sinta abraçado/a.
E na volta, claro, mais um quase carioca me foi o responsável por outro "tapa na cara", necessário para que eu voltasse novamente à realidade, depois de uma semana que foi sim, em quase todos os sentidos, uma semana de ilusão (meu abraço a este homem também). 

E só pra encerrar o assunto olímpico, gostaria de destacar mais cinco últimos pontos: 1 - Eu queria muito ter sido voluntário durante os Jogos do Rio, muito, mas muito mesmo. Passei por todos as fases de recrutamento e cheguei até a receber a carta convite, que era na verdade um e-mail convite (a Rio 2016 não confiava no seu próprio patrocinador). Eu seria um dos que ficavam de amarelo, ajudando no andamento dos esportes, no Parque de Deodoro, mas deixei de aceitar a oportunidade por causa da opinião dos outros. Logo, se eu puder lhes dar um conselho, peço que ouçam - ou leiam -, quando vocês tiverem vontade de fazer algo, façam, mesmo que isso resulte em uma condenação pública; 2 - Os Jogos Olímpicos vêm com aquele discurso de "arena limpa" por não estamparem nos locais de competição o nome de seus patrocinadores, mas em compensação, por toda a cidade, pra onde se olhava, só viam propagandas de Bradesco, Claro/NET, Bridgestone, Coca-Cola, Nissan e SporTV - não me lembro ao certo se tinha da Samsung também -, todos patrocinadores do evento (e de intrusas tinham as do Google Tradutor, ensinando a cultura carioca para o mundo). A exceção, claro, sobrava para as periferias, onde só se viam outdoors velhos de comércios locais; 3 - As lojas oficiais eram muito confusas e nunca tinham nada que você queria - e se tinha era muito caro. Fui para a Mega Loja de Copacabana em praticamente todos os dias da minha viagem atrás de um pôster que tinha esgotado e nunca era reposto. Quando era sexta-feira, já era quase que amigo das atendentes, e nada de conseguir comprar o pôster (comprei-o mais adiante no Mercado Livre, e até hoje não entendo - ou não quero entender - a discrepância dos preços); 4 - Se você quer realmente acompanhar a Olimpíada, aconselho que fique em casa. Quando eu cheguei de volta a Itápolis, na segunda-feira, me dei conta de que não sabia de nada do que tinha acontecido na primeira semana de Jogos. Não estou dizendo para você que é impossível acompanhar competições paralelas enquanto aproveita sua viagem, mas sem dúvida que você vai ter que escolher ou um ou outro para priorizar; 5 - Na televisão tudo é mais bonito.

imagem: Olympic.org
Sei que a postagem está longa, e um tanto quanto fora do convencional, mas eu senti que, de uma forma ou de outra, era como que uma necessidade escrevê-la. A Rio 2016 é (sim, a conjugação é no presente mesmo, pois é impossível dizer que a Rio 2016 acabou) uma passagem única pra história do país, independentemente de você ter gostado dela ou não, ter apoiado ela ou não. Eu tive a oportunidade de viver um pouco, ainda que muito pouco, desse momento, então cabe a mim a responsabilidade de manter essa história viva. Sei que posso ter parecido arrogante nessas páginas e páginas de texto, assim como posso ter sido também bastante egocêntrico (e olha que eu detesto expôr minha vida pessoal na internet), eu sei de tudo isso, mas na minha função de historiador, e acima de tudo, de admirador de tudo que esse movimento representa - vocês sabem disso, nunca escondi de ninguém -, escrever esse post, pra mim, era quase que uma obrigação moral. Aliás, "quase que" não, ela era sim uma obrigação moral. 
E justificando o título desse texto, eu ainda quero muito, mas muito mesmo que esse "primeira" se torne, na verdade, um "primeira de muitas". Sei que em diversos trechos pareceu que só fiz reclamar do evento, mas lhes garanto que só pareceu mesmo. Viver uma Olimpíada é algo maravilhoso! Recomendo a todos que algum dia tiverem a oportunidade. E como não poderia ser diferente, da mesma forma que comecei esse relato trazendo para o blog o VT da Cerimônia de Abertura da Rio 2016, não poderia encerrá-lo senão com belíssima Cerimônia de Encerramento dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (essa que sim, vocês podem comparar com a de Londres), essa festa apaixonante que me fez sambar demais no sofá da minha casa: