terça-feira, 16 de maio de 2017

Copa Verde, o melhor regional do Brasil




Vinha, veio, acabou. A Copa Verde teve seu desfecho agora a pouco, com o primeiro título da equipe do Luverdense sobre o Paysandu (primeiro jogo 3 a 1 para os mato-grossenses na  Arena Pantanal, empate em 1 a 1 na volta, em Belém do Pará) . E que paixão eu tenho por esse campeonato. 
Pra quem não conhece, a Copa Verde é uma competição que reúne times do Norte, Centro Oeste - menos Goiás - e Espírito Santo (esse estado é muito excluído, coitado). Acontece mais ou menos em simultâneo com  a maioria dos estaduais. Surgido em 2014, por iniciativa do Esporte Interativo, um ano após o renascimento da Copa do Nordeste, outra cria do canal, é meio que uma "fusão" das antigas Copa Norte, Copa Centro Oeste, Copa Norte Nordeste e outros regionais já extintos, sendo organizada pela Confederação Brasileira de Futebol, que até 2015 premiava o Campeão com uma vaga para a Sul Americana do ano seguinte, o que infelizmente acabou mudando, graças às alterações  realizadas pela Conmebol nos seus continentais. Hoje o título "apenas" garante o clube direto nas oitavas de final da Copa do Brasil.
Mas o que tem de tão especial um campeonato que com certeza é cheio de time ruim? Justamente isso, os times ruins! Os estádios, desconhecidos da maioria das pessoas, ver em rede nacional equipes que jamais teriam a oportunidade de aparecer não fosse este torneio, os jogadores, que têm na Copa Verde sua talvez única chance de exposição para lançar suas carreiras, além da própria imprevisibilidade que o campeonato tem. Quando você idealiza o futebol dessas regiões, qual a primeira coisa vem à sua cabeça, "campeonato de dois times, Remo e Paysandu, eles que vão ganhar sempre"? Mas não. Dos dois gigantes da região Norte, só quem detém título é o Papão, mas que em contrapartida, já amargou o vice para duas equipes da capital federal. O Remo, na única vez em que chegou à final, foi vítima da talvez mais espetacular virada de toda a história do futebol brasileiro, aplicando um senhor 4 a 1 sobre o time do Cuiabá no Mangueirão e tomando na partida seguinte nada menos do que 5 gols dos mato-grossenses. Na edição deste ano o Leão foi eliminado pelo  bizarríssimo (com todo o respeito, claro) Santos do Amapá nas quartas de final. Embora ao menos um dos dois paraenses tenham sempre chegado às finais, ainda é impossível dizer que o protagonismo seja deles. Não é como um estadual convencional, e só pela (quase) igualdade de chances de todos os times, já acho que o campeonato vale a pena. 
Mas mais do que pelo entretenimento, a Copa Verde também é um atlas pra interpretar o Brasil. A disputa não é um sucesso de público, não é um espetáculo de futebol, nem é uma liga que se sustenta sozinha. Com a criação encabeçada pelo Esporte Interativo, a emissora, junto com o Ministério do Esporte, é quem ajuda a custear viagens de alguns dos times para que os jogos possam acontecer. E não por menos, imaginem vocês alguém ilhado e completamente liso. Sem estradas, passagens de avião caras e nenhum meio de gerar renda. Esse o lado B - e outras letras - do nosso esporte nacional, a realidade de mais da metade dos clubes registrados como "profissionais" nos sistemas CBF. Não precisa ir tão longe pra encontrar essa realidade, ela existe por todo o país, mas essa região é especial para isso. Estrutural e geograficamente tão extrema que sequer a TV - que é quem sustenta de verdade o futebol - tem condições de mostrar o torneio na totalidade (nem fiquem esperando por um "Melhor da Copa Verde" no Esporte Interativo então). Investidores, dado tudo que já foi discutido, muito menos que se interessam em injetar seu dinheiro em tais circunstâncias. Pra mim é evidente que todas as dificuldades desses lugares são enormes, para os times, para os torcedores, para o futebol, até para a própria vida cotidiana das pessoas, logo, só pelo fato de existir e conseguir manter as boas características que eu já citei lá atras, a Copa Verde é sim o melhor campeonato regional do Brasil - mas que mesmo nessas condições ainda sofre da maldita regra de estádios de 10 mil lugares para jogos decisivos.
E toda vez que você ver a tabela do Brasileirão e achar um campeonato feito para os times do eixo sul-sudeste (com alguns convidados do nordeste), saibam, certamente é, e tem tudo pra continuar sendo, mas não culpe os clubes de outro lugares por isso, eles são só a ponta do iceberg - no calor de 47 graus - de uma realidade bem maior do que eles próprios, e que vai muito além do futebol. 

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