terça-feira, 27 de junho de 2017

O novo reality da Record é o limite de onde a TV pode chegar


Já assistiram ao Ensaio Sobre a Cegueira, filme de Fernando Meirelles baseado no livro de mesmo nome do português José Saramago? Se não, assistam, é muito bom. A sinopse básica é a seguinte, surge um fenômeno misterioso que deixa todas pessoas de um determinado lugar - ou até do mundo inteiro - cegas. As vítimas dessa "doença" começam a ser então encarceradas, aos poucos, em uma espécie de manicômio, na tentativa de evitar a proliferação dessa cegueira. As cenas que se seguem à isso são deploráveis, perturbadoras. Quando eu li a sinopse de A Casa, ainda no começo desse ano ou final do ano passado (nessa época, nem o nome para o Brasil o projeto tinha recebido ainda), as imagens desse filme foram as primeiras que me vieram à cabeça. 
O programa em questão é um reality show holandês (não, não é um formato brasileiro, antes que comece o mimimi) adquirido pela Record TV - detesto essa ordem de palavras - que propõe o confinamento de 100 pessoas em uma casa de padrões "normais", ou seja, construída para abrigar três ou quatro pessoas (quatro, no caso da nossa versão). Debaixo desse indigesto teto, essa gente toda é obrigada a disputar comida, produtos de higiene, água, roupa de cama e quaisquer outros itens básicos. Algo desumano! A recompensa ao ganhador é a bagatela de um milhão de reais, menos o que foi gasto na casa. Sim, além de você não ter nada, ainda é motivado a adquirir menos ainda para não esgotar seu prêmio. 
Não sou do cara que critica filme, série ou programa sem antes assistir, mas caramba, como não vou ter uma opinião negativa disso? A Casa viola todo e qualquer direito básico do ser humano. Você não tem espaço adequado, não tem alimento suficiente, não tem privacidade, não tem liberdade (algo assimilo à realidade de muitos brasileiros em prisões superlotadas, regiões de alta miséria e terrenos clandestinos), e tudo isso mediante o próprio consentimento, o patrocínio de grandes marcas e o aval de uma das maiores empresas de comunicação do país. Roteiro do último estágio da humanidade, exatamente idênticas às situações "fictícias" do livro/filme com que abri essa matéria, mas desta vez realizadas em prol apenas do puro e sádico entretenimento. E isso que nem vou entrar no assunto das denúncias de doenças, casos de violência e suspeitas de fraude que já surgiram antes mesmo da estreia da atração (afirmações que não cabem a mim dizer se são verdadeiras ou não). 
Não proponho boicote, até porque, eu mesmo pretendo ver isso para saber se não exagerei nessas minhas "acusações precipitadas", mas com esse discurso aí, temo ter quase certeza que não, pra pior dos males, não cometi exagero nenhum. Encerro o post com um preview do show, que não incorporei no começo da postagem porque esse player do R7 ficou péssimo depois que atualizou, nem pra centralizar os vídeos dá mais:  


Nenhum comentário:

Postar um comentário